Uma abordagem integrada da espectroscopia funcional no infravermelho próximo (fNIRS) e o rastreamento ocular para estudo da Atenção Compartilhada e Preferência Visual no Transtorno do Espectro Autista
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) integra os transtornos do neurodesenvolvimento e seus sintomas podem ser identificados desde a primeira infância. Diversos estudos apontam que os primeiros sintomas podem surgir no primeiro ano de vida, como padrões alterados no contato visual. Portanto, este estudo teve como objetivo investigar a relação entre padrões de preferência visual, ativação cortical pré-frontal e indicadores comportamentais em crianças com diagnóstico de TEA. Foram incluídas 13 crianças (2 meninas, média de idade de 75 meses; 11 meninos, média de 66 meses), submetidas inicialmente ao protocolo GeoPref, que apresenta estímulos visuais dinâmicos de natureza social e geométrica. As medidas de rastreamento ocular foram coletadas em uma primeira sessão contínua, e os dados de fNIRS foram obtidos posteriormente com delineamento em blocos. As avaliações comportamentais incluíram os instrumentos padronizados Vineland-3, CARS, CBCL e SRS-2. Os resultados indicaram leve preferência por estímulos não sociais, com média de 52% do tempo total de fixação voltado às figuras geométricas. Essa variável foi utilizada como preditora na análise de ativação cortical. Correlações de Spearman revelaram associações significativas entre a ativação no córtex pré-frontal dorsolateral direito (canal Fz–F) e o padrão visual (r = 0,68; p = 0,02), além de tendências de correlação com escores clínicos (p < 0,1). Na condição social, foi observada correlação negativa entre a ativação no córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo (canal F3–F1) e a duração de fixação em estímulos sociais (r = –0,60; p = 0,04). Adicionalmente, a ativação no córtex orbitofrontal e no giro frontal superior medial (canal AF4–Fp2) associou-se aos escores do SRS-2 (r = 0,58; p = 0,04). Os achados sugerem que padrões de ativação em regiões do “cérebro social”, como o córtex frontal superior e dorsolateral, podem refletir diferenças na preferência visual em crianças com TEA. A combinação entre medidas comportamentais, fisiológicas e de neuroimagem funcional representa uma estratégia promissora para a caracterização precoce do transtorno. Estudos futuros devem incluir grupos controle com desenvolvimento típico e amostras maiores, visando à validação dos resultados e à ampliação do entendimento sobre os mecanismos subjacentes ao TEA.