Análise de Enterococcus em amostras de dejetos de suínos tratados por biodigestão anaeróbia: avaliação da sensibilidade a antimicrobianos utilizados na suinocultura
O aproveitamento de dejetos de suínos, tratados por biodigestão anaeróbia, como fertilizante é uma prática sustentável de utilização de resíduos sólidos. Na suinocultura ocorre o uso de antimicrobianos, que favorece a seleção de micro-organismos resistentes no trato intestinal dos animais e possibilita a disseminação de variantes multirresistentes para outros seres vivos. Enterococcus estão presentes no intestino de animais e são caracterizados como uma das bactérias que mais causam infecções, sendo preocupação de saúde pública. Considerando a relevância da suinocultura no agronegócio brasileiro, e a importância do conhecimento técnico-científico sobre resistência a antibióticos neste ramo da pecuária, o objetivo deste estudo foi analisar a presença de micro-organismos do gênero Enterococcus em amostras provenientes de dejetos de suínos, que passaram pelo tratamento de biodigestão anaeróbia. Para tanto, as seguintes etapas foram realizadas: testes microbiológicos presuntivos para identificação do gênero da bactéria Enterococcus; identificação dos Enterococcus por meio de análises moleculares para confirmar os testes presuntivos; verificação da resistência dos micro-organismos identificados ao antibiótico recomendado para todos os estágios da produção de suínos: amoxicilina; e realização de ensaios microbiológicos com a amoxicilina acrescentando os aditivos alimentares utilizados na suinocultura, a fim de verificar possíveis alterações na resistência dos micro-organismos. As amostras de dejetos foram coletadas em uma granja de suínos no município de Ibiúna (São Paulo), sendo oito coletas realizadas entre 2022 e 2023. As amostras líquidas foram efluentes coletados da subsuperfície de um tanque de decantação do biodigestor; as amostras sólidas obtidas do efluente decantado depois de ter passado pelo sistema de desaguamento e ter sido deixado em leito de secagem coberto. Os ensaios experimentais foram realizados em laboratórios com a determinação das variáveis pH e sólidos (totais, fixos e voláteis); as análises microbiológicas abrangeram coloração de Gram, teste da catalase, o isolamento bacteriano primário das amostras em solução salina (incubadas a 37 ºC por 24h) e, após, o cultivo em meios de cultura caldo azida (37 ºC por 24h), ágar de Infusão de Cérebro e Coração (BHI) (37 ºC por 24h), meio ágar seletivo para Enterococcus (37 ºC por 24h); o antibiograma foi feito com discos de amoxicilina (2µg e 10µg) em meios de cultura com e sem os aditivos alimentares. A partir do micro-organismo isolado em caldo BHI com solução tampão Tris-HCl pH 7,8, realizou-se o teste de biologia molecular de reação em cadeia da polimerase (PCR) convencional com primers específicos para o gênero Enterococcus; o produto da PCR foi analisado por eletroforese em gel de agarose a 1,5%, corado com GelRed® e visualizado em transiluminador de luz ultravioleta. O controle positivo foi a cepa ATCC 29212. Do total de 16 amostras coletadas (8 líquidas + 8 sólidas), o estudo indicou a presença de Enterococcus na maior parte (93,75%), confirmados por testes moleculares. O antibiograma não apresentou micro-organismos resistentes à amoxicilina em bactérias isoladas e cultivadas nos dois tipos de meios de cultura - com e sem o acréscimo dos aditivos alimentares.