Geração distribuída a gás natural: uma análise sob a perspectiva das potencialidades, desafios e modelos de aplicação para impulsionar a tecnologia no estado de São Paulo
A geração distribuída foi regulamentada no Brasil em 2012 por meio da Resolução Normativa nº 482/2012, complementada posteriormente pela Resolução Normativa nº 687/2015, ambas estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que proporcionaram um aumento crescente do número de unidades de geração distribuída a partir de então. Porém, essa expansão se deve predominantemente a instalações de unidades geradoras fotovoltaicas que corresponderam em junho de 2021 a 99,9% de todas as unidades geradoras de geração distribuída no país. O gás natural tem sido subutilizado neste meio, representando, no mesmo período, apenas 0,00002% das unidades geradoras. Este trabalho se propôs a analisar o cenário da micro e mini cogeração distribuída a gás natural, dos pontos de vista técnico, financeiro e regulatório, para compreender os principais desafios à sua expansão, então, suscitar alguns novos modelos e serviços aplicados ao setor elétrico que podem ajudar a viabilizar a micro cogeração a gás natural. Este estudo está delimitado à área de concessão da Companhia de Gás de São Paulo – Comgás, e os segmentos avaliados foram os hotéis, hospitais, academias/clubes e condomínios residenciais. As análises realizadas foram feitas com base em levantamento bibliográfico e por manipulação de dados disponibilizados pela ANEEL e Comgás. Os resultados apontaram que existe um potencial técnico considerável para a aplicação da tecnologia de micro e mini cogeração a gás natural na área de estudo, principalmente nos segmentos de academias/clubes e condomínios residenciais, que se beneficiam frente à concessionária de energia elétrica por seus perfis de demanda específicos (demanda térmica da mesma ordem de grandeza da elétrica). Além de um potencial técnico, a viabilidade financeira da implantação da tecnologia foi positiva nos casos analisados, apontando períodos de payback entre 3,1 e 5,4 anos, considerando uma tecnologia com duração média de 10 anos. Os principais desafios associados ao desenvolvimento da tecnologia foram a falta de políticas de incentivo, no Brasil, voltadas à aquisição e instalação do equipamento, isenção de taxas e impossibilidade de venda da energia gerada, que além de reduzir os benefícios da aplicação, muitas vezes a inviabilizam. Soma-se à ausência dessas políticas, o custo do gás natural comparativamente ao da eletricidade, a necessidade de nacionalização dos equipamentos, bem como a difusão dos conhecimentos de sua operação e manutenção, principais fatores que traduzidos em custos, torna difícil a viabilidade financeira. Por fim, novos modelos de aplicação do setor elétrico tais como, Microrredes, Virtual Power Plants e Resposta da Demanda foram identificados como possíveis modelos propulsores da viabilização da aplicação dos microgeradores a gás e de si próprios, beneficiando tanto o consumidor que o instala quanto o sistema elétrico como um todo.