O Brasil e os Acordos Regionais Comerciais: o comércio internacional na economia brasileira pós-industrial
Esta pesquisa investiga por que o Brasil, apesar de sua relevância econômica global, não conseguiu concluir acordos regionais de comércio (ARCs) significativos fora do Mercosul e da União Europeia entre 1991 e 2019. A análise centra-se na trajetória da política comercial brasileira desde o início da Nova República, marcada por um número limitado de acordos e um nível relativamente baixo de abertura comercial. A partir de 2016, observa-se uma mudança de postura, com o país ampliando sua atuação por meio de acordos bilaterais de barreiras não tarifárias e buscando ARCs com parceiros comerciais relevantes.O trabalho propõe cinco hipóteses principais: (1) países com perfil político-econômico semelhante tendem a firmar menos ARCs; (2) marcos ideacionais históricos moldam preferências políticas (e.g., desenvolvimentismo); (3) a ideologia do governo de plantão afeta a propensão a firmar ARCs; (4) o setor industrial não competitivo exerce poder de veto contra a liberalização; (5) setores competitivos, como o agronegócio, encontraram vias alternativas de abertura comercial por meio de acordos bilaterais não tarifários. A metodologia adota uma abordagem mista, integrando: Análise quantitativa, com modelos de regressão e séries temporais (como ADF, ARIMA, ARIMAX), a partir de dados do Banco Mundial, MAPA e organismos internacionais; Análise qualitativa, com uso da análise de discurso sobre documentos de política industrial e registros de audiências legislativas (1991–2023), para captar os elementos ideacionais e institucionais que influenciam a formulação da política comercial. Com base na triangulação metodológica, o estudo busca revelar a interação entre ideologia, grupos de interesse, estrutura institucional e condicionantes econômicas externas na construção da política comercial brasileira.