Engenharia de defeitos no dissulfeto de molibdênio para geração eletroquímica de hidrogênio
O dissulfeto de molibdênio (MoS₂) é um material lamelar amplamente investigado como eletrocatalisador para a reação de desprendimento de hidrogênio (RDH), devido ao seu baixo custo e alta abundância. No entanto, sua atividade catalítica está associada predominantemente aos sítios de borda, uma vez que o plano basal é majoritariamente inerte a tal processo. Com isso, diversas estratégias de engenharia de defeitos têm sido exploradas - como criação de vacâncias de enxofre, dopagem e tratamento eletroquímico - com o objetivo de ativar o plano basal e melhorar sua eficiência para RDH. Entre os métodos de geração de defeitos, o tratamento térmico se destaca por sua simplicidade, escalabilidade e compatibilidade com diferentes morfologias de MoS₂. Neste trabalho, é proposta uma rota baseada em pirólise de substratos celulósicos modificados com MoS₂, promovendo simultaneamente a conversão do papel isolante em material condutor e a ativação do MoS₂ através da criação de defeitos, tornando-o um catalisador mais eficiente. O processo de modificação e tratamento térmico também permitiu o uso de sprays comerciais de MoS₂, demonstrando versatilidade e facilidade de aplicação. A formação de defeitos foi confirmada por microscopia eletrônica de varredura (MEV) e espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios-X (XPS). Os eletrodos apresentaram uma redução de sobrepotencial para 240 mV a 10 mA cm⁻² após submissão ao tratamento proposto. Em paralelo, está sendo atualmente investigada também a geração de defeitos em MoS₂ monocamada obtido por desbaste eletroquímico. Após a obtenção da estrutura em monocamada, as bordas de MoS2 foram isoladas para evitar sua contribuição na investigação da atividade do plano basal. Utilizando peróxido de hidrogênio, um oxidante brando, foi possível ativar seletivamente o plano basal sem introduzir contaminantes metálicos ou carbono. Análise por espectroscopia Raman e medidas eletroquímicas revelaram uma diminuição do sobrepotencial para 374 mV em 10 mA cm⁻², validando essa abordagem como uma rota limpa e compatível com substratos condutores como ouro e materiais flexíveis.
Enquanto as estratégias de engenharia de defeitos são amplamente exploradas, o efeito de deformações mecânicas sobre a estrutura do MoS₂ permanece menos estudado, especialmente em substratos flexíveis. Com isso, oram desenvolvidos eletrodos elastoméricos baseados em PDMS e ouro termicamente depositado, capazes de suportar até 20% de alongamento mantendo sua condutividade. Sobre esses eletrodos, foram transferidos MoS₂ multicamada e pela primeira vez foi adotado o desbaste eletroquímico para obter monocamadas em eletrodos elastoméricos. O posterior alongamento do eletrodo a cerca de 20 % induz a formação de novos defeitos na forma de borda orientados pelo substrato onde anteriormente era o plano basal. Além disso, deformação mecânica foi também observada, como confirmado por MEV, espectroscopia Raman e Microscopia de força atômica. Essa abordagem resultou em uma melhora expressiva na atividade eletrocatalítica, com sobrepotencial reduzido a 352 mV em 10 mA cm⁻². Buscando alternativas mais acessíveis economicamente ao ouro, está sendo atualmente estudado também o uso de grafeno induzido por laser (LIG) como material condutor. Embora altamente condutor e poroso, LIG é mecanicamente frágil. Para contornar essa limitação, foi desenvolvido um método de transferência de LIG para substratos elastoméricos pré-alongados, obtendo eletrodos com boa estabilidade mecânica e boa resposta eletroquímica mesmo quando submetido a 20% de deformação e mesmo quando dobrados a +90°. O desenvolvimento de plataformas condutoras alongáveis abre caminho para a combinação de engenharia de defeitos e deformações em MoS₂ e possibilita que futuros estudos sobre a reversibilidade mecânica desse material sejam investigados