DENSIFICAÇÃO DA CASCA DA CASTANHA-DO-PARÁ (BERTHOLLETIA EXCELSA): AVALIAÇÃO SOCIAL E DE POTENCIAL ENERGÉTICO DE BRIQUETES PRODUZIDOS NA AMAZÔNIA
Em um cenário global marcado pela intensificação da crise climática e pela crescente demanda energética, torna-se urgente a diversificação das matrizes energéticas e o aproveitamento sustentável de resíduos. Embora o Brasil possua uma matriz relativamente renovável, sua forte dependência da hidroeletricidade e concentração em poucas fontes limita a valorização de biomassas regionais. Na Amazônia, a produção extrativista da castanha-do-Brasil gera grandes volumes de resíduos, como casca e ouriço, frequentemente descartados de forma inadequada. Este trabalho teve como objetivo analisar as condições de processamento de briquetes a partir da casca da castanha-do-Pará e avaliar o ciclo de vida social da sua produção na Cooperativa Mista dos Produtores Extrativistas do Rio Iratapuru (COMARU), localizada no sul do Amapá. A metodologia incluiu análises físico-químicas, termogravimétricas e elementares da biomassa, ensaios de densificação com planejamento experimental fatorial, cálculo do retorno energético (EROI) e Avaliação do Ciclo de Vida Social (ACV-S) com base em dez categorias de impacto social aplicadas a cinco grupos de stakeholders. Com base nas superfícies de resposta, determinou-se o ponto ótimo de produção dos briquetes em 98 °C e 185,75 bar, com ganhos de desempenho físico e energético. O ganho de massa foi de 0,08 (±0,04)%, a expansão volumétrica apresentou compressão de -0,38 (±0,88)%, a resistência mecânica foi satisfatória em 0,4335 (±0,08) MPa, e a razão de compactação alcançou 2,28 (±0,004). A densidade energética média foi de 17.426,20 (±33,87) MJ.m⁻³ e o EROI médio foi de 1,15, indicando viabilidade energética. A ACV-S demonstrou desempenho superior dos briquetes em nove das dez categorias avaliadas, com impactos positivos em geração de renda, sustentabilidade territorial e inclusão produtiva. Conclui-se que a valorização da casca por meio da densificação é técnica, energética, ambiental e socialmente viável, representando uma alternativa real para a transição energética justa na Amazônia.