COVID-19 e a disparidade de gênero no mercado de trabalho brasileiro
A pandemia do Coronavírus-19 e as medidas de enfrentamento adotadas para contenção do vírus afetaram significativamente a economia brasileira e seu mercado de trabalho. A piora dos indicadores de emprego atingiu sobretudo os grupos demográficos mais vulneráveis, evidenciando e ampliando diversas dimensões de desigualdades existentes. Este trabalho teve como objetivo avaliar as diferenças de desempenho entre homens e mulheres no mercado de trabalho brasileiro, tanto do ponto de vista da perda de emprego quanto das horas trabalhadas, utilizando os microdados trimestrais da PNAD-Contínua. Os modelos estimados sugerem que o ajuste na margem intensiva foi maior para as mulheres, com ampliação do gap de gênero nas horas trabalhadas em cerca de 2 horas semanais, em média. Entre as famílias monoparentais com filhos pequenos, o incremento do diferencial de gênero chegou a 3,5 horas. A probabilidade estimada de perda de emprego das mulheres se mostrou superior em todo período de análise, com alguma piora do diferencial entre o segundo e o terceiro trimestre de 2020. Ao incluir controles para o setor de ocupação, o incremento do gap de gênero na perda de emprego e nas horas trabalhadas foi atenuado, reforçando a hipótese de que a piora relativa do emprego feminino estaria associada a sua maior representatividade nos setores mais vulneráveis ao choque da pandemia no mercado de trabalho.