Retórica e pluralismo na economia: dois ensaios contemporâneos sobre as relações inerentes por trás da ciência econômica
Este trabalho tem como objetivo tentar entender o que está por trás da prática científica dentro do campo econômico – partindo do reconhecimento de que a retórica e o pluralismo são imprescindíveis à própria ciência. Na primeira parte, resgatando os debates de Deirdre N. McCloskey e entendendo que seu ponto de partida é uma ciência cujos debates devem ser primordialmente honestos, entendemos que pouco se discutiu sobre a falta ou ausência desta honestidade. Isto é, entende-se aqui que McCloskey vive um ideal de ciência e que outros pensadores deveriam ser adicionados ao debate para melhor entender as reais atividades do campo. Neste sentido, adotamos a ótica de Bruno Latour com a motivação de ler as abordagens de McCloskey através de suas lentes. À Latour, portanto, é creditado o status de pensador das relações maliciosas da ciência – ou seja, das relações mais realistas – mostrando que existem forças por trás de sua prática na economia. Assim, transita-se de uma perspectiva mccloskeyana de um diálogo bondoso e honesto, para revisitar o elefante na sala através de uma perspectiva latourniana de um diálogo persuasivo e malicioso. Observa-se, portanto, que por trás da ciência existem relações de poder que estimulam sua produção e prática, fazendo com que exércitos mais poderosos se imponham sob exércitos mais fracos, transformando suas verdades em fatos e as demais em ficção. Ou seja, adicionamos um primeiro novo debate à ciência através da retórica: o estímulo da ciência econômica em função das relações de poder. Partindo desse reconhecimento, a segunda parte deste estudo tem como objetivo abrir e expor o interior das caixas-pretas da ciência econômica – começando pelo pluralismo. Entende-se que o pluralismo não apenas ajuda a entender as relações de poder e o papel que desempenham, mas também oferece ferramentas importantes para abrir outras caixas-pretas. Resgatando debates de pensadores do campo, mostra-se que o pluralismo não deveria ser apenas o refúgio natural às propostas monistas, mas o local de triunfo da democracia e tolerância das alternativas metodológicas da ciência. Ao transitar entre as diferentes linhas de pensamento, observamos que parece haver uma pluralidade de pluralismos na ciência econômica, e que talvez a própria heterodoxia pratique algo semelhante a um pluralismo não plural – uma espécie de pluralismo monista. Quer dizer, exploramos a noção de que apesar do pluralismo ser uma variável prudente, não é a principal alternativa às relações de poder por trás da ciência. Se as atividades do campo transitam entre relações não plurais e visões não democráticas, talvez debate precise ser observado através de uma ótica política e fazemos este exercício através do mainstream econômico. Logo, partindo dessa perspectiva, expomos três pontos principais que entendemos estarem ocultos dentro das caixas-pretas do campo: a ciência econômica ser constituída por meio de relações de poder e persuasão; as limitações dos direitos poderem levar à servidão intelectual; e a ciência econômica não ser, necessariamente, “ciência” para todos. Ao final deste trabalho, portanto, adicionamos mais um debate ao campo, agora através do pluralismo: a necessidade de abrir as caixas-pretas através destes três pontos.