Entre choques e acordos: o processo de formulação da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)
Esta dissertação buscou descrever e explicar o processo de formulação de políticas públicas no Brasil. Embora as primeiras discussões sobre a criação de uma política sobre a proteção de dados pessoais datem de 2007, no âmbito do Ministério da Justiça, a aprovação de um marco regulatório para tratar do assunto ocorreu apenas em 2018. Assim, a pergunta que se coloca é que processos ocorreram em 2018 para que o tema da privacidade e da proteção de dados pessoais finalmente entrasse na agenda do governo e de que forma os diferentes atores mobilizados em torno da pauta se organizaram ao longo desses processos influenciando a aprovação de um modelo específico de marco regulatório. Para tanto, foram empregados modelos do campo de políticas públicas (múltiplos fluxos e coalizões de defesa) no estudo de caso sobre a tramitação e aprovação da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) (Lei nº 13.709, de 2018). Além da revisão bibliográfica, dados foram coletados a partir de documentos públicos e de entrevistas semiestruturadas com atores envolvidos no processo estudado. Entre as conclusões e resultados, merecem atenção: (i) a verificação da entrada do tema da proteção de dados pessoais na agenda governamental brasileira a partir de 2010; (ii) a emergência de um subsistema de políticas públicas sobre a matéria; (iii) o mapeamento dos atores mobilizados e dos principais aspectos de divergência, permitindo a observação de, ao menos, duas coalizões rivais; e (iv) a influência de um choque interno (escândalo de vazamento de dados) e do acordo entre as coalizões para viabilizar a aprovação unânime da LGPD no Congresso.