O papel da disponibilidade hidrica na dinamica dos mutualismos entre plantas com nectários extraflorais e formigas
Mutualismos são interações interespecíficas condicionais que envolvem a troca de recursos e serviços entre os participantes. Essa troca implica em custos para os indivíduos, sendo o saldo da interação variável e determinado pela compensação desses custos pelos benefícios obtidos via parceiros de interação. Grande parte dessa variação pode ser determinada pelo contexto ambiental no qual a interação está inserida. Condições ambientais específicas podem afetar o saldo dos mutualismos por dois mecanismos principais: mudança no investimento dos indivíduos nos recursos trocados na interação, e mudança na composição de parceiros mutualistas entre comunidades. Esses dois mecanismos devem, por exemplo, ser um dos meios pelos quais fatores abióticos interferem no saldo de mutualismos entre plantas com nectários extraflorais e formigas. O saldo desse mutualismo para as plantas tende a aumentar quanto mais seco o ambiente, contudo os mecanismos por trás dessa variação ainda não são conhecidos. Para preencher essa lacuna, eu investiguei nessa tese dois mecanismos pelos quais variações espaciais na disponibilidade hídrica podem influenciar o saldo do mutualismo entre plantas nectários extraflorais e formigas. Mais especificamente, (i) investiguei como a disponibilidade hídrica afeta a qualidade do néctar extrafloral ofertado pelas plantas às formigas e como as formigas respondem as variações na produção desse néctar produzido e (ii) como a variação na comunidade de plantas e formigas ao longo de gradientes ambientais influenciam os padrões de interação e as propriedades emergentes dessas interações no nível de comunidades. Na primeira investigação, observei que a disponibilidade hídrica tem um efeito não linear na produção de néctar extrafloral. No início da restrição hídrica, as plantas com NEFs aumentam seu investimento no néctar, reduzindo esse investimento, contudo, à medida que a restrição hídrica persiste. Essa dinâmica na produção de néctar tem um efeito similar no padrão de visitação das formigas, que se tornam mais abundantes e ativas nas plantas no início da restrição hídrica, reduzindo sua ocorrência à medida que a restrição hídrica se prolonga. Quanto ao segundo estudo, observei que a disponibilidade hídrica tem um efeito indireto sobre o padrão de interação entre espécies de plantas e formigas ao afetar diretamente a riqueza de espécies de plantas e formigas ao longo dos gradientes hídricos. Dessa forma, a disponibilidade hídrica tem potencial para afetar o quanto as espécies de plantas e formigas investem na interação e, consequentemente, interagem em escala local. Porém, a forma como as interações se distribui ao longo de gradientes hídricos em larga escala é explicada principalmente pelas variações na assembleia de espécies parceiras ao longo do gradiente.