"Formar para o trabalho": A influência da Reforma do Ensino Médio nos textos da Base Nacional Comum Curricular
A Reforma do Ensino Médio, sancionada em 2017, traz para a ordem do dia do debate público nacional o projeto – nem tão novo assim – de um Ensino Médio vocacionado que reorganiza os anos finais da educação básica em itinerários formativos, incluindo o ensino técnico profissionalizante a um núcleo comum (common core) de formação mais geral. A Reforma busca se justificar na importância do acesso dos jovens egressos da educação básica ao mundo de trabalho, o que é objeto de grande controvérsia na literatura sobre educação e juventude. Se, por um lado, alguns estudos sinalizam o trabalho dos jovens em idade escolar como lugar de realização pessoal e de complementação à renda familiar, outros apontam os seus efeitos negativos no acompanhamento dos estudos e, em muitos casos, o trabalho juvenil como causa do abandono escolar. Ainda assim, a Reforma do Ensino Médio soa atrativa para muitos atores educacionais que defendem que a organização do Ensino Médio deveria, de fato, ser mais vinculada à formação para o trabalho. Este projeto propõe uma investigação acerca da “formação para o trabalho” nos textos introdutórios e de Ciências da Natureza (Química, Física e Biologia) do Ensino Médio a partir das diferentes versões da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), balizando com análises dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM). A partir dessa vasta base de dados fora consolidados corporatextuais, analisado com o auxílio do software IRaMuTeQ. Analisou-se como se dá a adesão dos documentos oficiais à narrativa do Ensino Médio vocacionado que a Reforma tem propugnado, tendo em vista que as propaladas vantagens da Reforma na seara da formação profissional técnica têm como contrapartida o enxugamento do currículo de Ciências (Física, Química e Biologia) do Ensino Médio brasileiro.