DA TENSÃO À TRANSIÇÃO NA MOBILIDADE URBANA: Conflitos no Trânsito e as Condicionantes da Automobilidade como Perspectivas de Mudança
A mobilidade possui especificidades quando o recorte é urbano. A “transição sociotécnica” no setor de transportes ocorreu diversas vezes ao longo do tempo, destacando-se mais recentemente o papel do automóvel na reconfiguração das cidades. Ou melhor, o automóvel foi estabelecido como o artefato principal do regime da automobilidade, em torno do qual se organizaram as sociedades contemporâneas. A motorização em massa, então, trouxe externalidades negativas, tensionando a insuficiência e uma revisão dos paradigmas tradicionais de transporte orientada à conceitos de mobilidade tida como sustentável. O recente fortalecimento de perspectivas sociológicas evidenciou as desigualdades nas mobilidades, enquanto medidas recentes, mais orientadas por preceitos de uma mobilidade justa, buscaram, e ainda pretendem, reduzir a dependência do carro com a intenção de promover, além de mobilidades sustentáveis e justas, a melhoria da qualidade de vida urbana. O "novo paradigma das mobilidades" enfatiza os aspectos sociológicos e a compreensão dos comportamentos humanos que são relacionados à mobilidade urbana. O objeto de estudo da pesquisa concentra-se no padrão cultural estabelecido pelo “regime da automobilidade”, analisando seus efeitos sociais e físicos, sobremaneira nos segmentos mais vulneráveis desse sistema (pessoas a pé e em bicicletas), e com foco específico nos conflitos e na segurança no trânsito urbano como elemento de transição na mobilidade. O caso de estudo observa a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). O problema central da pesquisa é compreender como as dimensões técnico-normativa e espacial do regime da automobilidade influenciam a dimensão cultural e as interações entre as pessoas no trânsito urbano, tendo os conflitos como um dos elementos de transição na mobilidade urbana. A hipótese a ser verificada é que essas dimensões atuam sobre a dimensão cultural - por meio do estabelecimento de regras, procedimentos e ambientes espaciais que condicionam experiências, expectativas, hábitos e comportamentos -, e, a partir dos tensionamentos provenientes da transição na mobilidade urbana, potencializam os conflitos entre as pessoas no trânsito urbano. Assim, esse é um elemento indicador dessa transição. O objetivo geral é investigar a relação dessas três dimensões sociotécnicas e como atuam sobre os conflitos entre as pessoas no trânsito urbano. Para isso, pretende-se sistematizar as teorias fundamentais e identificar as condicionantes representativas dos conflitos no trânsito a partir de investigações quantitativas e qualitativas, envolvendo dados secundários consolidados na RMSP e a obtenção de dados primários perante técnicos, gestores e a população em geral.