Mensuração e Análise da Segregação Baseada no Indivíduo: Incorporando Contextos Geográficos e Temporais
Estudos que buscam mensurar a segregação urbana são tradicionalmente desenvolvidos a partir de uma abordagem baseada no lugar, que adotam o espaço residencial como referência. No entanto, a literatura tem chamado atenção para o fato que o local e o tempo em que as pessoas permanecem em distintos espaços realizando suas atividades cotidianas variam de indivíduo para indivíduo, o que implica em experiências diferenciadas de segregação pelo território. Essa mudança na forma de analisar a segregação permite a compreensão do fenômeno como uma experiência individual e não apenas como uma característica do lugar. Para que essas questões possam ser incorporadas nos estudos sobre o fenômeno, sua mensuração deve ser operacionalizada por meio de medidas individualizadas, isto é, baseadas no indivíduo. Dessa forma, frente aos desafios de incorporar o indivíduo como unidade de análise e somado às limitações impostas pelos tipos de dados necessários para essa investigação, este trabalho desenvolveu estratégias metodológicas para a analisar e medir a segregação individual em vários contextos geográficos e temporais, considerando dados disponíveis para a realidade brasileira. A efetividade da métrica individual de segregação desenvolvida foi analisada através de um estudo de caso sobre a Região Metropolitana de São Paulo, a partir do qual foram observadas alterações nos níveis de segregação entre e intra grupos sociais em diferentes períodos do dia, bem como identificados perfis de indivíduos que experienciam a segregação de forma mais acentuada em um mesmo grupo social e entre os grupos sociais. A adoção de uma métrica individual de segregação se mostrou eficaz em capturar a natureza individual e temporal da segregação enquanto experiência, bem como em revelar aspectos interseccionais do fenômeno. A análise combinada do isolamento e os atributos de identidade dos indivíduos permitiu a visualização de perfis da população cujas condições socioeconômicas e de onde realizam suas atividades, tanto diurnas quanto noturnas, reduzem ainda mais as chances de acessar oportunidades, melhorar seus níveis de sociabilidade e diminuir suas desigualdades. Resultados alcança-dos a partir da análise empírica da segregação urbana possibilitada pela perspectiva individual, abrem caminhos importantes para pesquisas mais aprofundadas sobre o fenômeno e para a compreensão e redução de desigualdades sociais no território.