Como varia a distribuição geográfica da tartaruga-verde (Chelonia mydas) em cenários de mudanças climáticas globais?
A tartaruga-verde (Chelonia mydas) é uma das cinco espécies de tartarugas marinhas brasileiras. É considerada ameaçada de extinção e apresenta ampla distribuição geográfica, dos trópicos até zonas temperadas. Apesar de ser uma espécie cosmopolita, não estão disponíveis mapas detalhados sobre sua distribuição geográfica, o que dificulta a elaboração de estratégias e planos de conservação. Este estudo propôs avaliar os possíveis efeitos das mudanças climáticas globais na distribuição geográfica da tartaruga verde a partir das seguintes perguntas: 1) Quais são as áreas de maior adequabilidade ambiental de C. mydas no Oceano Atlântico? 2) Como essas áreas de adequabilidade se modificariam em cenários otimistas (SSP1-1.9) e pessimistas (SSP5-8.5) de mudanças climáticas para os anos de 2030 e 2050? 3) Quais variáveis ambientais são mais relacionadas à adequabilidade ambiental para as populações do Oceano Atlântico de C. Mydas? Foram utilizados 1.750 registros de ocorrência da espécie obtidos da base de dados Global Biodiversity Information Facility (GBIF) e variáveis ambientais do repositório Bio-Oracle para modelagem de distribuição de espécies com o algoritmo MaxEnt, implementado no pacote megaSDM do programa R Studio. Os resultados indicam maior perda de áreas adequadas para a espécie na região do Caribe. Observamos maior fragmentação de áreas adequadas na porção Sul do oceano Atlântico e no litoral da África ocidental. As variáveis mais relacionadas à adequabilidade ambiental de C. Mydas foram: temperatura máxima, declividade, temperatura mínima, fitoplâncton, salinidade e clorofila. Este estudo aponta que a distribuição potencial da C. mydas no oceano Atlântico será fortemente impactada pelas mudanças climáticas nas próximas décadas. O ganho de áreas adequadas em latitudes mais ao sul, especialmente ao longo da costa brasileira, pode representar oportunidades para continuidade de planos de conservação já existentes, esforços de monitoramento, tanto dos adultos quanto das regiões de desova e proteção de habitats críticos, a fim de assegurar a possibilidade resiliência da espécie ao longo do tempo, reforçando a importância do uso de modelos preditivos como ferramenta para auxiliar políticas públicas para manejo e proteção dos ecossistemas marinhos e costeiros.