PEDAGOGIAS DO SÉCULO XXI - PERSPECTIVAS DE CONSUMO EDUCATIVO QUE SE PRODUZEM COMO VERDADES PEDAGÓGICAS
Neste estudo, tivemos como objetivo compreender diferentes aspectos de ideias e práticas pedagógicas que consideramos modismos na educação. Investigamos a escola na contemporaneidade e discutimos como essas metodologias e proposições sobre o processo de ensino e aprendizagem estão relacionadas às demandas da pós-modernidade. Essa análise nos permitiu refletir sobre as variações do estatuto do saber pedagógico nos primeiros anos deste milênio, além de contribuir para a compreensão de práticas governamentais no campo educacional. A pesquisa bibliográfico-documental foi nosso método de investigação. O caráter exploratório dessa abordagem proporcionou maior familiaridade com os problemas estudados, tornando-os mais explícitos e permitindo a construção de hipóteses (Gil, 2002). Selecionamos e analisamos criticamente trabalhos de naturezas distintas, seguindo os seguintes critérios: 1. Textos de divulgação científica, acessíveis a professores de diferentes áreas e níveis de formação (Categoria I); 2. Artigos publicados em revistas acadêmicas (Categoria II); 3. Trabalhos apresentados em congressos de pesquisa em Educação (Categoria III). Como recorte investigativo, focamos em três eixos principais: a. A inserção da neurociência na educação: como conceitos dessa área têm sido introduzidos (direta e indiretamente) nas salas de aula e quais as possíveis intencionalidades — explícitas ou veladas — dessas incorporações; b. A supervalorização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs)na escola, suas eventuais causas e consequências; c. As chamadas metodologias ativas, termo cunhado nos anos 1980, que partem do pressuposto de que o aluno deve assumir um papel mais ativo, investigativo e comunicativo. Analisamos seus fundamentos, o perfil de estudante que visam atingir e o tipo de indivíduo que aspiram formar. Nossa investigação sobre a neurociência na educação nos levou a crer que há uma tentativa de enquadrar o pensamento em uma lógica arborescente, ainda que sua natureza seja rizomática (Deleuze & Guattari, 2011). Essa abordagem se apoia em noções como o escaneamento cerebral como ferramenta da neurociência, na suposta objetividade dessa área do conhecimento e na ideia de que a perspectiva neurobiológica é superior a outras formas de investigação (como a pedagógica). Para nós, discursos recorrentes sobre plasticidade cerebral e outras ideias neurocientíficas — muitas vezes usadas para responsabilizar indivíduos por problemas de diversas ordens — podem servir à lógica neoliberal. No que diz respeito às TICs, acreditamos que elas têm o potencial de aproximar-nos de uma "aprendizagem rizomática"(Khire, 2023): contínua, dinâmica e repleta de conexões. No entanto, concordamos com Nascimento (2011) quando afirma que a apresentação das novas tecnologias como ferramentas neutras para facilitar a aprendizagem e impulsionar o progresso social é uma operação ideológica sustentada pelo fetichismo tecnológico, inserida na reestruturação produtiva do capital. Quanto às metodologias ativas, concluímos que, em geral, elas consistem em repaginações de ideias antigas agora instrumentalizadas por um discurso que privilegia flexibilidade e produtividade, alinhando-se à lógica neoliberal de culpabilização individual pelo sucesso ou fracasso. Sob o argumento do protagonismo estudantil e da autonomia, oculta-se uma dinâmica que desconsidera desigualdades estruturais e esvazia o papel do professor como mediador crítico do conhecimento.