Ensino da biodiversidade através do pensamento filogenético: um estudo com professores do Brasil e de Portugal
A utilização de árvores filogenéticas no ensino de Ciências e Biologia permite a compreensão sobre a história evolutiva dos seres vivos a partir de uma perspectiva que considera as relações de parentesco entre eles, chamada de pensamento filogenético (ou pensamento em árvore, do inglês, tree thinking). Dessa forma, essa investigação teve como objetivo identificar e analisar as principais possibilidades e os desafios presentes no ensino sobre a diversidade dos seres vivos através do pensamento filogenético, relacionadas aos aspectos representacionais, conceituais e pedagógicos. Para tal, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com professores de dois contextos diferentes, brasileiro e português, e também foram coletados dados de questionários e de sequências didáticas construídas por professores brasileiros no contexto de um curso de formação continuada. A tese está organizada em cinco artigos, em um formato multipaper. Os dados obtidos foram analisados através de procedimentos para a análise de dados qualitativos, bem como alguns elementos de Análise de Conteúdo. Com relação às possibilidades e desafios representacionais, nem sempre as representações construídas pelos professores correspondiam a representações semelhantes a uma árvore filogenética, e mesmo algumas das que correspondiam apresentavam concepções alternativas. Sobre os conhecimentos dos professores, a maior parte dos professores entrevistados reconheceu uma árvore filogenética e apresentou alguma compreensão conceitual sobre o tema. Porém, também apresentaram certa dificuldade com alguns conceitos. Pontos que também pareceram influenciar o conhecimento dos professores brasileiros e portugueses sobre o tema são as questões relacionadas à formação de professores que lecionam Ciências e possuem outros cursos de formação inicial que não a Biologia e o ano de formação dos professores. A maioria dos professores entrevistados trabalha as árvores filogenéticas em sala de aula, e este trabalho varia entre os professores brasileiros e portugueses, possivelmente por influência curricular. Em relação ao curso de formação continuada abordado com os professores, foi possível perceber que este teve um impacto positivo em sua formação, tanto em relação a aspectos pedagógicos como conteudinais. Foi possível perceber que os professores participantes apresentaram maior facilidade com a interpretação de árvores filogenéticas ao longo do curso. Além disso, ao construírem sequências didáticas sobre o tema, trouxeram aspectos relacionados à Natureza da Ciência, a partir de pesquisas abordadas com eles durante o curso, bem como aspectos pedagógicos trabalhados durante a formação. Assim, consideramos relevante que se invista em formação inicial, mas também na formação continuada de professores, de maneira que mesmo os professores que não tiveram contato com essa temática em sua formação inicial, possam ter acesso a este conhecimento em outros processos formativos, tornando possível um ensino que ajude a construir com os estudantes um pensamento filogenético. Nesse sentido, ressaltamos as potencialidades do curso ministrado que abordou o tema na perspectiva do Conhecimento Pedagógico do Conteúdo, de modo a trabalhar conhecimentos relevantes para o ensino da temática em sala de aula, e incorporou elementos relacionados à Natureza da Ciência.