PROSPECÇÃO DE METABÓLITOS ESPECIAIS COM ATIVIDADE ANTI-PARASITÁRIA OBTIDOS DE Nectandra paranaensis COE-TEIX. (LAURACEAE)
A doença de Chagas e a leishmaniose cutânea são doenças tropicais negligenciadas, causadas respectivamente pelos parasitas protozoários Trypanosoma cruzi e L. (L.) amazonensis. Além de possuírem alta incidência global, são duas das DTNs mais encontradas no Brasil, afetando milhões de pessoas. As limitações existentes nos seus atuais tratamentos medicamentosos, torna imprescindível a busca por novas substâncias ativas contra essas doenças. Considerando a relevância da Química de Produtos Naturais como fonte riquíssima de compostos
bioativos, o presente trabalho traz o estudo prospectivo dos metabólitos especializados de Nectandra paranaensis Coe-Teix., e a investigação de suas atividades anti-parasitárias. Os OEs da espécie foram extraídos por hidrodestilação de folhas e galhos separadamente. Por meio de análise em CG-EM, foi detectado que ambos os são predominantemente compostos por sesquiterpenos oxigenados (46,5% nas folhas e 65,5% nos ramos) e
hidrocarbonetos sesquiterpênicos (42,2% e 24,5%, respectivamente), sendo o guaiol o constituinte majoritário nos dois (11,1% nas folhas e 26,7% nos ramos). Do extrato hexânico dos galhos, foram obtidas cinco
neolignanas, caracterizadas por RMN de 1H e 13C como a licarina A (1), ácido meso (2) e treo-diidroguaiarético (3), Machilin I (4) e nectandrin B (5). O composto 4 apresentou CE50 = 57,0 μM frente às formas tripomastigotas de T. cruzi, e foi atóxico, nas concentrações testadas, frente a células NCTC. Os diastereoisômeros 2 e 3, inéditos no gênero Nectandra foram testados contra T. cruzi e L. (L.) amazonensis. Os
resultados indicaram que a estereoquímica meso (2) possui significativa maior atividade nas formas extracelulares dos parasitas, apresentando CE50 de 6,8 μM (IS = 19,1) frente a T. cruzi, e CE50 de 89,3 μM (IS = 3,4) frente a L. (L.) amazonensis. Contra a forma amastigota de L. (L.) amazonensis, ambos os compostos 2 e 3 foram ativos, com CE50 de 42,5 (IS = 7,1) e 40,4 μM (IS = 7,4), respectivamente, enquanto o controle
miltefosina possui CE50 = 105,3 μM (IS = 1,0). Tais resultados reiteram o potencial que reside em espécies da biodiversidade brasileira, em especial do gênero Nectandra, e abre possibilidades para aprofundamento
do entendimento do mecanismo de ação dos compostos 2 e 3 no modelo de L. (L.) amazonensis.