DESENVOLVIMENTO DE MANTAS FIBROSAS DE GELATINA POR AIRBRUSHING VISANDO POTENCIAL APLICAÇÃO BIOTECNOLÓGICA
De forma a amenizar a dependência de transplantes em casos de doenças ou traumas causados por acidentes, surgem as biotecnologias voltadas à medicina regenerativa, como a engenharia de tecidos, que visam o reparo e a manutenção tissular do próprio paciente, ao invés da substituição oriunda de um doador. Seu principal objetivo é a construção de dispositivos que mimetizem a matriz extracelular do tecido lesionado, possibilitando-se sua regeneração. Com isso, neste trabalho, buscou-se o desenvolvimento de mantas fibrosas de gelatina (proteína derivada do colágeno) por meio da técnica airbrushing. Variados parâmetros foram testados: a utilização dos solventes ácido acético e 2,2,2-trifluoroetanol; diferentes concentrações e tipos (A e B) de gelatina; modificações nos parâmetros da técnica airbrushing e mecanismos de reticulação em glutaraldeído. Para que fosse possível verificar os melhores resultados, ensaios de caracterização foram realizados, como microscopia eletrônica de varredura, FTIR, determinação de viscosidade, teste de degradação e citotoxicidade. A partir dessa sequência de análises, verificou-se que o 2,2,2-trifluoroetanol é o solvente mais apto, pois permitiu a formação de fibras. Em geral, deve-se haver um balanço na concentração pois, apesar de maiores concentrações garantirem fibras mais regulares (sem beads) dificultam a extrusão do polímero, ocasionando recorrentes obstruções no bico. A gelatina tipo A foi capaz de produzir maior quantidade de mantas em menor tempo (comparado à tipo B), possivelmente decorrente de seu ponto isoelétrico mais alto, e maior compatibilidade com um solvente de caráter mais ácido. Em relação à reticulação e ao teste de degradação, constatou-se que a exposição ao vapor de glutaraldeído em um sistema fechado por 36 horas foi o suficiente para que as mantas resistissem a cinco dias de degradação em água, e conservassem a estrutura fibrosa das amostras, o que não ocorreu com a reticulação por imersão por 24 horas. Por fim, mediante testes de citoquímica, as amostras não apresentaram citotoxicidade significativa, atestando sua potencial aplicação em tecidos biológicos. O airbrushing demonstrou ser uma técnica atraente para a produção de mantas de gelatina voltadas à engenharia de tecidos, principalmente quanto à sua praticidade e custo, necessitando-se de maiores estudos para se tornar competitiva quanto às outras técnicas de produção de arcabouços.