Integração morfológica em Cycloramphus: relações entre modularidade e aspectos ecológicos
A morfologia de estruturas tridimensionais de caráter complexo, como o crânio, pode ser mediada pela interação entre desenvolvimento e função dos subconjuntos que as compõem. Trata-se de uma importante consequência de efeitos genéticos que atuam sobre a variação fenotípica, sendo responsáveis por maior ou menor integração entre conjuntos específicos de ossos. Dentro dos conjuntos formados, o fenótipo tende a ser mais correlacionado do que quando comparado a ossos de conjuntos diferentes. Conhecido como modularidade morfológica, esse conceito pode agir como limitante para a evolução da forma da estrutura, implicando em tendências evolutivas para os organismos como um todo. Tais tendências e limitações evolutivas podem ter papel central na diversificação de grupos taxonômicos que apresentam ciclos de vida complexos e ecomorfologia marcante. Esse é o caso de Cycloramphidae, família de anfíbios anuros notória pelo variado grau de independência do ambiente aquático para reprodução e desenvolvimento larval. Além disso, a variação morfológica em adultos é coerente em relação a ocupação de ambientes, com hábitos que vão de saxícolas a semifossoriais. A posição filogenética da família também chama a atenção a respeito da diversidade ecomorfológica. Cycloramphidae vem sendo recuperada em Neoaustrorana, com famílias em que ocorre hábito torrencial (e.g. Hylodidae), terrestre (e.g. Batrachylidae) e endotrofia larval (e.g. Alsodidae); Neoaustrorana, por sua vez, vem sendo recuperado juntamente com famílias em que ocorre hábito aquático (e.g. Telmatobiidae), neomelia (e.g. Rhinodermatidae) e carnivoria larval (e.g. Ceratophryidae), em um clado recentemente denominado Ceratophryoidea. Este trabalho teve por objetivo discutir a evolução da forma e da modularidade em crânios de Cycloramphidae frente à diversidade ecomorfológica encontrada em Ceratophryoidea. Em razão da baixa representatividade taxonômica do clado em filogenias de Anura, foi necessário primeiramente elaborar uma filogenia (bayesiana com base em evidência total, 226 caracteres morfológicos e 6696 pares de bases contemplando genes mitocondriais e nucleares). A partir desse contexto, explorei a integração morfológica, o filomorfoespaço das famílias envolvidas e a disparidade dos grupos ecomorfológicos que as formam, tendo em conta conjuntamente o hábito em fase adulta e larval.