Organogéis lecitina-poloxamer como carreadores de fármacos para aplicação tópica: desenvolvimento, perfil de permeação e avaliação estrutural do estrato córneo
Neste trabalho, foi realizado o estudo físico-químico de organogéis (ORG) contendo dois ativos, a lidocaína (LDC), um anestésico local, e derivados curcuminoides, moléculas onde a ação farmacológica vem sendo amplamente investigada. A curcumina (CUR), um curcuminoide natural, foi isolada com sucesso dos rizomas do açafrão da terra, onde é encontrada em altas concentrações. As análises por RMN confirmaram a elevada pureza da CUR extraída, porém o rendimento da purificação foi relativamente baixo, o que inviabilizando seu uso no preparo dos ORGs. Assim, foi utilizada como alternativa uma curcumina comercial. Foi sintetizado e purificado um análogo da curcumina, um curcuminoide monocetônico (CUR1) com alto rendimento (96%) através de uma metodologia inovadora, utilizando o catalisador pentacloreto de nióbio. Assim, foram preparadas oito formulações contendo miristato de Isopropila e lecitina de soja como fase oleosa (IPM-LEC) e poloxamer 407 (PL407) 30% como fase aquosa, sendo a concentração final de LDC de 2% m/m e dos curcuminoides 0,02% m/m. As análises por calorimentria diferencial exploratória (DSC) confirmaram o comportamento termoreversível do PL407 mesmo na presença dos demais componentes. Os géis apresentaram comportamento reológico viável para uso tópico, sendo o módulo elástico (G’) superior ao módulo viscoso (G’’) a temperaturas inferiores de 32,5 oC (temperatura da pele). O módulo G’ foi consideravelmente aumentado nos ORGs contendo LEC-LDC e os curcuminoides, o que pode estar relacionado a novas interações químicas entre os componentes e o PL407, estabilizando a rede tridimensional dos ORGs.. As análise reológicas e as curvas de DSC levantaram a hipótese de uma forte relação entre estrutura do lipídio da fase oleosa e o processo de micelização e transição sol-gel nestes materiais. As formulação contendo LEC e CUR1 apresentaram maior fluxo e o coeficiente de permeabilidade para a LDC, através da membrana artificial STRAT-M®. Por fim, as análises estruturais do estrato córneo (SC) por FTIR, revelaram que os ORGs tendem a contribuir com a organização da matriz do SC de pele de orelha de suínos, na temperatura ambiente (25 oC). Mas, novas estratégias podem ser adotadas para estudos futuros, como a avaliação SC após tratamento térmico a 45 oC, sugerida na literatura. Adicionalmente ao FTIR, amostras de pele dermatomizada de orelha de suínos e o SC isolado foram analisados por Tomografia de coerência óptica (OCT), onde foi observado após 24 horas de tratamento com os ORGs modificações morfológicas na camada mais superficial da pele e após 4 horas de tratamento, modificações morfológicas já foram observadas para o SC. Os resultados parciais discutidos nesse relatório mostram-se promissores tanto no sentido da aplicação destes géis, quanto no entendimento da estrutura destes materiais.