Modulação da via MAPK/ERK por vemurafenibe em melanoma NRASQ61R mutado e seus efeitos sobre a dinâmica mitocondrial
As mutações no gene N-RAS ocupam a segunda posição entre as mutações encontradas no melanoma, atingindo 15-20% dos casos, e está associada à proliferação tumoral. Apesar disso, ainda não existem inibidores específicos para a proteína mutante N-RAS. O vemurafenibe foi o primeiro fármaco de terapia alvo dirigida para o tratamento do melanoma aprovado pelo FDA. Entretanto, ele é um inibidor da proteína mutante B-RAFV600E, a mutação mais frequentemente observada neste tipo de câncer. Porém, se utilizado em pacientes com mutação em N-RAS ou sem a mutação em B-RAF(wild-type), o vemurafenibe aumenta a ativação de proteínas downstream à RAF na via MAPK/ERK por meio da ativação paradoxal, agravando o quadro clínico. Por outro lado, estudos sugerem que a resistência ao vemurafenibe em melanoma B-RAF mutado pode surgir devido a mutações secundárias em N-RAS. Alterações no metabolismo energético mitocondrial também parecem estar envolvidas neste processo. Resultados prévios do nosso grupo mostraram que o vemurafenibe induz extensiva fusão mitocondrial em melanoma B-RAFV600E, porém nada se sabe sobre seus possíveis efeitos em melanomas com mutação N-RASQ61R. Assim, o objetivo desse trabalho foi estudar o impacto do vemurafenibe sobre a sinalização mediada por MAPK/ERK e seus efeitos sobre a dinâmica mitocondrial em células de melanoma com mutação N-RASQ61R (SK-MEL-147). Para isso, os possíveis efeitos citotóxicos do vemurafenibe na linhagem SK-MEL-147 foram investigados por meio de curvas concentração-resposta, usando os testes de MTT e ensaios de morte celular usando anexina V-FITC e iodeto de propídeo. A expressão de proteínas de interesse da via MAPK/ERK e de dinâmica mitocondrial foi avaliada por Western blotting e a morfologia mitocondrial, por microscopia eletrônica de transmissão. Ainda, mdivi-1 foi utilizado como inibidor da fissão mitocondrial. Os resultados obtidos mostraram que o vemurafenibe não apresenta significativa citotoxicidade na linhagem SK-MEL-147, mesmo após 72 h de incubação. Além disso, o vemurafenibe promoveu a ativação paradoxal da via MAPK/ERK, com aumento da ativação (fosforilação) de MEK e ERK. Ao contrário do que foi observado em melanoma B-RAF mutante, o vemurafenibe não promoveu extensiva fusão mitocondrial na linhagem SK-MEL-147, prevalecendo a morfologia característica de fissão mitocondrial, com mitocôndrias menores e arredondadas. A inibição da principal proteína de fissão mitocondrial DRP1 por mdivi-1 foi capaz de sensibilizar as células N-RAS mutadas ao vemurafenibe. Ademais, a interferência com a fosforilação oxidativa, seja por desacoplamento ou inibição da cadeia respiratória, também sensibilizou as células SK-MEL-147 ao vemurafenibe. Em conjunto, esses resultados contribuem para a compreensão dos mecanismos moleculares associados à ativação paradoxal da via MAPK/ERK por vemurafenibe em células de melanoma com a mutação N-RASQ61R e apontam para a mitocôndria como um alvo potencial para a quimioterapia combinada neste tipo de câncer.