Modulação da via MAPK/ERK por vemurafenibe em melanoma NRASQ61R mutado e seus efeitos sobre a dinâmica mitocondrial
Melanoma é o tipo mais letal de câncer de pele. Em aproximadamente 40-50 % dos casos de melanoma cutâneo há mutação no gene BRAF e em 15-20 % no gene NRAS. Tais mutações ativam constitutivamente a via de sinalização intracelular MAPK/ERK, que gera respostas para proliferação e sobrevivência celular. A terapia alvo dirigida com uso de inibidores da sinalização MAPK/ERK revolucionou o tratamento do melanoma. Atualmente existem inibidores de BRAF mutada para bloquear a sinalização MAPK/ERK, mas não existem inibidores para NRAS. O vemurafenibe foi o primeiro medicamento de terapia alvo dirigida aprovado pelo FDA, ele prolonga a sobrevivência de pacientes com melanoma metastático não operável ou com mutação do tipo BRAFV600E. Porém, se utilizado em pacientes com a mutação NRAS ou sem a mutação em BRAF (wildtype), o vemurafenibe aumenta a sinalização da via MAPK/ERK por meio da ativação paradoxal, piorando o quadro clínico. Por outro lado, estudos sugerem que a resistência ao vemurafenibe em melanoma BRAF mutado surge devido a mutações secundárias em NRAS, e alterações em processos energéticos mitocôndrias também parecem estar envolvidas nesse processo. Considerando que as mitocôndrias constantemente se fundem ou dividem a fim de se adaptar às demandas metabólicas da célula, e que um estudo prévio mostrou que o vemurafenibe induz fusão mitocondrial em melanoma BRAF mutado, o objetivo desse estudo foi estudar as alterações de dinâmica mitocondrial induzidas por vemurafenibe em células de melanoma com mutação NRASQ61R (SK-MEL-147) e como a modulação desse processo pode sensibilizar essas células para ação do vemurafenibe. Nossos resultados mostraram que o vemurafenibe promoveu a ativação paradoxal da via MAPK/ERK na linhagem SK-MEL-147. Além disso, diferentemente das células BRAF mutadas, não foi observada extensiva fusão mitocondrial nas células NRAS mutadas, prevalecendo a morfologia característica de fissão mitocondrial, com mitocôndrias menores e arredondadas. Sabendo que DRP-1 (dynamin related protein 1) desempenha um papel central no processo de fissão mitocondrial, utilizamos um inibidor da sua ativação. Assim, a inibição de DRP-1 por mdivi-1 foi capaz de sensibilizar as células NRAS mutadas ao vemurafenibe. Esses resultados contribuem para a compreensão dos mecanismos moleculares associados à ativação paradoxal da via MAPK/ERK por vemurafenibe em células de melanoma com a mutação NRASQ61R e apontam para a mitocôndria como um alvo potencial para a quimioterapia combinada neste tipo de câncer.