Sistemas coloidais lipídicos e poliméricos como nanocarreadores de farmácos para o tratamento da dor pós-operatória
Na terapia da dor pós-operatória, temos os anestésicos locais(AL) e os anti-inflamatórios não esteroidais(AINES) como principais fármacos utilizados. Administrados isoladamente ou combinados, buscam potencializar o efeito anestésico/analgésico, sendo capazes de bloquear a excitação e/ou condução em nervos periféricos, assim como reduzir mediadores inflamatórios devido ao processo operatório. Possuem tempo de ação relativamente curto e, toxicidade para o sistema nervoso central e cardiovascular, sendo um dos maiores desafios e limitação nas terapias. Neste trabalho, usamos dois fármacos modelo com propriedades distintas: o ibuprofeno (IBF), um AINE também utilizado como analgésico e antitérmico; e a ropivacaína (RVC), um anestésico local amplamente utilizado em procedimentos cirúrgicos. O desenvolvimento de sistemas carreadores para esses fármacos, visando prolongar seu tempo de ação, reduzindo dose e toxicidade sistêmica através de novas formulações para liberação de RVC e IBF através de carreadores nanoestruturados, são alternativas de amplo interesse. Nesse contexto, este trabalho objetiva: i) Desenvolver um sistema para liberação controlada de RVC através de hidrogéis a base de poloxamers 407 e 338 com diferentes valores de balanço hidrofílico-lipofílico e caracterizar essas novas formulações; e ii) Desenvolver um sistema de liberação controlada para IBF encapsulado em nanopartículas lipídicas sólidas (NLS) e dispersas em hidrogéis termorreversíveis à base de PL407 e 338. A incorporação da RVC aos hidrogéis foi de 0,5 % (m/v), e de IBF às NLS foi de 1% (m/V). Análises reológicas determinaram que os módulos elástico (G′) e viscoso (G″), viscosidade (η) e temperatura sol-gel (Tsolgel), apresentaram valores maiores para G′ quando comparado com G″(~40x) para RVC, e G’>G” em ~15 a 28 vezes para IBF, revelando carácter viscoelástico para essas formulações, com diferenças de Tsol-gel observadas para ambos os sistemas. Análises de espalhamento de luz hidrodinâmica (DLS) a 25ºC apresentaram comportamento com distribuição bimodal onde PL 407 apresentou diâmetro micelar de 37,4 ± 0,3 nm e uma população menor de ~5 nm. Sob 37 °C, observou uma distribuição unimodal com menores diâmetros hidrodinâmicos (21.71 ± 0.74 e 30.4 ± 3.5 nm) para RVC, e para NLS apresentaram diâmetros entre ~272 a 389 nm, inclusive com a incorporação de IBF. As análises por microscopia eletrônica de varredura (MEV) mostraram RVC com morfologia alongada, pontiaguda e retangular. PL 407 possui uma morfologia em camada enquanto PL338 apresentou uma estrutura porosa, com características homogêneas mesmo após a incorporação de RVC. Tais características se confirmaram na análise por AFM, e observa NLS com morfologia arredondada e homogeneidade após incorporação de IBF. O sistema de PL407/338 prolongou a liberação de RVC in vitro em ~4x quando comparada com RVC livre no período de 24h, e seguiu o modelo matemático de liberação proposto por Higuchi (0.92>R2 >0.98). A liberação de IBF in vitro inserido nas NLS e dispersos em PL407/338 teve uma redução na velocidade de liberação em ~10 vezes no período de 24 horas em relação ao fármaco livre, seguindo o modelo de Higuchi (0,85> R2>0,92). As formulações de NLS foram acompanhadas por 180 dias e apresentaram comportamento estável quando mantidas sob temperatura de 4ºC. Os resultados obtidos contribuem com a investigação e caracterização de carreadores de liberação sustentada tanto para ropivacaína, que possui como limitação de uso seu curto tempo de ação, quanto para ibuprofeno, que também apresenta nas formulações atualmente disponíveis um curto tempo de ação e toxicidade gastrointestinal quando administrado por via oral. Os sistemas carreadores nanoestruturados desenvolvidos demonstraram regulação da cinética de liberação destes fármacos em tratamentos de dor pós operatória, abrindo perspectivas que justificam o uso clínico.