Afinação em cantores: uma investigação sobre imagens auditivas pré-fonatórias
O canto é uma atividade de alta complexidade cognitiva que envolve diversos processos mentais, entre os quais destaca-se a integração sensório-motora. Um dos modelos cognitivos criados para explicar seu elo com a afinação, o Multimodal Imagery Association Model (MMIA), propõe que imagens mentais auditivas podem auxiliar esse processo de tradução essencial para a imitação vocal. Desta forma, este projeto pretende verificar se a criação de imagens mentais auditivas relaciona-se a um melhor desempenho em tarefas de imitação vocal, isto é, maior afinação. Esperamos que a prática da imagem auditiva anterior à vocalização possa contribuir para uma afinação mais adequada em tarefas de imitação vocal em diferentes contextos musicais. Além disso, pelo fato do cantor ser o próprio instrumento, especula-se que indivíduos com maior autoconsciência corporal de seus sinais internos produzam imagens mentais mais vívidas. Participaram deste estudo 32 indivíduos, 15 cantores (3 profissionais) e 8 não-cantores. A sessão contou com uma tarefa prática de imitação vocal e com a aplicação de questionários comportamentais que avaliaram a musicalidade, a consciência interoceptiva, a desvantagem vocal no canto, a criação de imagens mentais auditivas (vividez e controle) e a ansiedade na performance musical. A tarefa consistia na imitação de 10 melodias tonais e 10 atonais. Em ambos contextos, os participantes cantaram as melodias em duas condições pseudorandomizadas e contrabalanceadas: a) com mentalização: após um tempo de 4s durante o qual o participante devia mentalizar a melodia recém escutada e indicar a vividez de sua mentalização; b) sem mentalização: após uma tarefa de 4 s de leitura de dígitos em voz alta. Foram incluídas nas análises melodias com desvio máximo da frequência fundamental df0 = 200 cents. Melodias com df0 ≤ 50 cents foram consideradas corretas. Observou-se diferença significativa na média de desvio de f0 entre condições nos contextos e correlações positivas entre interocepção e controle das imagens auditivas e entre musicalidade e a vividez da imagens auditivas. Interessantemente, não-cantores obtiveram um melhor desempenho em trials em que mentalizaram melodias atonais. Especulamos que o fator ansiedade possa influenciar negativamente a criação das imagens mentais.