Análise da contribuição brasileira para os relatórios do grupo de Trabalho II do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) com foco nos Impactos, adaptações e vulnerabilidades no Brasil.
O Objetivo desse trabalho é analisar comparativamente os cinco relatórios de avaliação do IPCC, com foco no grupo de Trabalho II – impactos, adaptação e vulnerabilidade para o Brasil. Especificamente foi analisada e apresentada a evolução das pesquisas brasileiras publicadas nos relatórios, sua notoriedade e contribuição para evidenciar os riscos de impactos, as vulnerabilidades e as adaptações dos sistemas brasileiros para as seguintes componentes: Hidrologia e Recursos de Água Doce e Assentamentos Humanos. A pesquisa utilizou os métodos histórico e comparativo para apresentar os avanços das pesquisas brasileiras. Os resultados obtidos incluem as análises do primeiro (FAR), segundo (SAR) e terceiro (TAR) quarto (AR4) e quinto (AR5) relatório do IPCC. Para a componente Recurso Hídrico e Recurso de Água Doce, enquanto no FAR o ênfase era para o desmatamento na Amazônia e como isso influenciaria no ciclo hidrológico e a intensidade de chuvas nesta região, no TAR foram evidenciadas nas pesquisas a influência do El Niño e La Niña e o aquecimento global no comportamento hidrológico a fim de contextualizar futuras mudanças para o comportamento da vazão sazonal, em toda a Amazônia, e as secas no nordeste. Para o AR4 e AR5, um número mais robusto de pesquisas foi evidenciado, devido a um aprimoramento dos modelos climáticos. No AR4 as pesquisas evidenciaram que nos últimos 50 anos os desmatamentos relevantes na Amazônia brasileira e as queimadas agravaram a desertificação da região, assim como o estresse hídrico local. Por outro lado, os extremos na região Sul e Sudeste do Brasil aumentaram, gerando mais chuvas intensas e inundações após secas prolongadas com impactos na saúde das populações. No AR5 as pesquisas enfatizaram o aumento dos eventos extremos de precipitação pesada, chuvas acima de 50 mm aumentaram em cinco vezes no período de 2000 a 2010 em São Paulo, desde a década de 2000, gerando mais impactos na saúde e na agricultura, destacando a alta vulnerabilidade das megacidades brasileiras. Na Amazônia o atraso da estação chuvosa gerou impactos nos recursos hídricos. Para a componente Assentamento Humano, as pesquisas brasileiras ao longo dos três relatórios evoluem até o TAR para uma análise socioeconômica e de risco, onde as estruturas urbanas ganham maiores análises devido a sua vulnerabilidade e suscetibilidade às mudanças climáticas. É incluído, o estudo da saúde humana quanto aos problemas de poluição, transmissão por vetores, possíveis problemas enfrentados por favelas devido à superlotação, e a atenção maior é dada para as cidades, tendo como exemplo o Rio de Janeiro. O conceito de “cidades sustentáveis” tendo como exemplo Curitiba-PR (Brasil) é sugerido como condições existentes de resposta adaptativa quanto ao enfrentamento de impactos das mudanças climáticas. No AR4 e AR5 e com um leque muito maior de pesquisas os centros urbanos ganham destaque, e os efeitos combinados dos impactos das mudanças climáticas nas cidades brasileiras representam desafios cada vez maiores para a gestão de risco. Com isso, doenças endêmicas ressurgiram por serem sensíveis a um clima em mudança. Conclui-se que as pesquisas não somente contribuíram com o conhecimento internacional dos impactos nos sistemas hídricos e de assentamentos humanos no Brasil, mas também permitiu que um leque muito maior de ramificações de pesquisas fossem realizadas no país e que o conhecimento adquirido pudesse auxiliar para o desenvolvimento de respostas governamentais para a adaptação às mudanças climáticas ao longo do século XXI