Uma leitura territorial e escalar da transição agroecológica. Estudo comparado no Vale do Paraíba e Litoral Norte, São Paulo
O objetivo geral deste trabalho é explicar a heterogeneidade das trajetórias de transição agroecológica evidenciadas no Vale do Paraiba e no Litoral Norte de São Paulo. especificamente, a tese busca explicar a relação entre a trajetória do desenvolvimento territorial e as formas como a transição se estrutura ou como a mesma esbarra em desafios que lhe dão um caráter diversificado e heterogêneo. O esforço teórico-conceitual desempenhado nesta tese se distancia do aparato de regimes alimentares e das narrativas bifurcadas da tese (homogeneizante) da convencionalização, aplicado aos estudos sobre as potencialidades e limites da transição agroecológica – conceituações estas ainda dominantes na literatura nacional e internacional. Para tanto articulamos três abordagens teóricas, a saber: a) a geografia crítica polinizada com a discussão transescalar da ecologia política; b) a sociologia relacional de Flingstein e a sua conceituação de coalizões sociais; e c) as configurações territoriais de Favareto et al (2015), “derivadas da relação de causação recíproca que só pode ser apreendida quando se considera o movimento das contradições e das articulações entre a agências e as estruturas operantes no território”. Sendo assim, a transição agroecológica é concebida como produto (possível) e relacional entre a agencia individual dos atores sociais, economicos e institucionais e as estruturas que moldam a margem de manobra destes atores. A governança reflexiva surge como manifestação concreta desta tensão relacional. Esta relação é variável no tempo e no espaço, resultando em acoplamentos (oportunidades de escalamento) e desalinhamentos (armadilhas escalares) entre as condições específicas no território e os processos sociais, economicos e políticos extraterritoriais. Estes acoplamentos e desalinhamentos se tornam categorias explicativas do surgimento, e do fortalecimento ou, contrariamente, do enfraquecimento e marginalização dos processos que, em última análise definem a sustentação e alcance da transição agroecológica no território. A partir da articulação destas três abordagens conceituais-analíticas que consideramos legítima a análise comparativa da transição agroecológica em três municípios – Cunha, São Luís do Paraitinga e Ubatuba – no território do Vale do Paraíba e no Litoral Norte de São Paulo.