Africanizando o ensino de ciências: uma análise étnico-racial nos livros didáticos e a proposição do uso de cosmogonias africanas para uma educação antirracista
O racismo fecundado pelo Ocidente instituiu que os povos negros são destituídos de inteligência, sendo classificados como corpos animalizados, enquanto os europeus são vistos como objetivos e racionais, portanto representantes do espírito. Nossa hipótese é que essa cisão levou ao apagamento da África no Ensino de Ciências. A fim de des-mascarar esse equívoco, serão apresentados dados históricos que apontam as produções de conhecimento realizadas no conjunto do continente africano em diversas áreas do conhecimento. Além disso, apresentamos o estado da arte dos trabalhos acadêmicos, com uma revisão profunda em anais de eventos e periódicos nacionais com o objetivo de verificar a inserção das cosmogonias africanas no ensino de ciências. Também se realizou uma análise de livros de divulgação científica que tratam de origens do universo, para verificar se há menção a cosmogonias africanas. E, por fim, fizemos uma investigação étnico-racial nos livros didáticos de ciências, indicados nas séries finais do Ensino Fundamental com dois objetivos: verificar se há menção a cosmogonias africanas no volume destinado ao 9º ano, ocasião em que se dá no currículo escolar brasileiro a discussão sobre a origem do universo; analisar a distribuição percentual de imagens de pessoas negras, contrastando com a distribuição percentual de imagens de pessoas brancas. Para isso foram criadas as seguintes categorias: educacional, ciência/tecnologia, lúdico/corpórea e fora das categorias. Com suporte teórico de pensadores como Frantz Fanon e Jessé Souza, essas categorias foram geradas considerando a cisão entre corpo e espírito originária do racismo, sendo a ciência e tecnologia representando o espírito e a lúdico/corpórea o corpo. Ao término deste trabalho, elaborou-se uma sequência didática que permite a inserção da cosmogonia Bantu-Kongo no ensino de ciências. Espera-se que esta pesquisa contribua para a ruptura de paradigmas raciais e que a produção de conhecimento do outro, na figura do africano, seja estudada, legitimada e reconhecida.