Efeito da ayahuasca em modelos experimentais de dependência ao etanol e análise imunohistoquímica em roedores
A dependência ao etanol é um problema que afeta tanto a vida do dependente como a sociedade. A ayahuasca é uma bebida usada em cerimônias religiosas, preparada com duas plantas, a Psychotria viridis, que possui o alucinógeno DMT, e Banisteriopsis caapi, que possui alcaloides β-carbolinas que inibem a monoaminoxidase, diminuindo o metabolismo da DMT. Alguns estudos observacionais e experimentais sugerem que a ayahuasca pode ser útil para prevenir ou tratar a dependência de drogas. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito do pré-tratamento com chá de ayahuasca em modelos experimentais de dependência ao etanol e análise imunohistoquimca em roedores. Os alcaloides do chá de ayahuasca foram quantificados por meio de HPLC acoplado a espectrofotômetro de massas (HPLC-MS/MS) e mostraram-se compatíveis com as relatadas na literatura. Para os testes comportamentais, foram utilizados camundongos albinos swiss, machos, com 3-5 meses de idade. O perfil farmacológico da droga foi avaliado por meio de testes de triagem, administrando nos animais; água, chá de ayahuasca na forma original, e doses crescentes de ayahuasca liofilizada. Os mesmos animais foram avaliados quanto à coordenação motora no rota-rod à 12 RPM. Na triagem farmacológica, apenas os camundongos tratados com a dose mais alta apresentaram alterações no comportamento e diminuição da coordenação motora, demonstrando que as doses menores e equivalente as utilizadas nas cerimônias ayahuasqueiras, são adequadas para testes pré-clínicos. Um segundo grupo de camundongos foi avaliado no modelo de preferência condicionada ao lugar. Os animais receberam água e diferentes doses de ayahuasca por gavagem, enquanto etanol e solução salina foram utilizados nos dias de condicionamento administrados via ip. Neste teste os animais não apresentaram preferência na arena na avaliação pré-tratamento. Após o pré-tratamento com ayahuasca e condicionamento com etanol, apenas o grupo controle apresentou preferência condicionada comparando o ambiente não pareado e pareado, sugerindo que a ayahuasca bloqueou o PCL induzido por etanol. Outro protocolo utilizado foi o de sensibilização comportamental. Os camundongos receberam doses diárias de água ou ayahuasca administrados por gavagem e etanol ou salina por via ip por 14 dias. Os animais foram avaliados quanto a distância percorrida, tempo de permanência na região periférica, e taxa de exploração em arena de campo aberto nos dias 01, 05, 09 e 14. Estes animais também tiveram a região do Núcleo Accumbens Core e Shell avaliados quanto a imunoreatividade da proteína c-Fos. Na sensibilização comportamental não foi possível observar alteração na distância percorrida entre os animais quando comparado o dia 01 e 14 de cada grupo experimental. A ausência de diferença estatística no grupo que recebeu água e etanol, indica que não ocorreu sensibilização comportamental nos animais. A análise da taxa de exploração mostrou que existe diferença estatisticamente significativa entre os grupos tratados, incentivando novas análises. A quantificação da proteína c-Fos, não mostrou diferença estatisticamente significativa entre os grupos analisados tanto na região Core quanto Shell do NAc. Os resultados foram analisados pelos testes t-Student, RMANOVA, ANOVA Mann-Whitney U, Wilcoxon seguido de teste de Tukey como post-hoc. A significância estatística foi estabelecida em p<0,05.