Sobre a evolução da senciência em Metazoa: uma análise à luz da sistemática filogenética
A senciência animal é um fenômeno biológico que possibilita sensações e experiências subjetivas. Fundamentada sobre um arcabouço interdisciplinar, todo animal que possui alguma capacidade de sentir, reconhecer estímulos e ser afetado pelos mesmos de maneira negativa ou positiva, possui um potencial de ser senciente. Pesquisas nesta área têm focado especialmente em grupos de vertebrados e a possibilidade de animais distantes do gênero Homo possuírem senciência permanece prematura. Evidências contemporâneas apontam para algumas conservações filogenéticas de mecanismos responsáveis pelas reações à estímulos nocivos durante o decorrer da diversificação dos animais. Porém, alguns autores enfatizam que o fenômeno da senciência evoluiu pelo menos três vezes em diferentes linhagens. A partir desta perspectiva, este trabalho teve como objetivo realizar uma análise comparada de alguns atributos relativos à senciência sob a ótica da sistemática filogenética, utilizando caracteres moleculares, morfológicos e comportamentais, buscando assim testar uma hipótese de homologia. Nossos resultados indicam a presença de diversas características morfológicas e moleculares já no ancestral comum de Eumetazoa com uma maior diversificação em Bilateria e também Chordata, sendo que algumas dessas já estavam presentes antes do surgimento das células nervosas. Os dados comportamentais também são bastante distribuídos entre os táxons animais, indicando o surgimento das capacidades cognitivas em um tempo profundo. O surgimento dos sistemas sensoriais e nervosos parecem estar envolvidos com processos evolutivos de bricolagem, sugerindo que a mudança de uma vida sem percepção subjetiva para os primeiros passos da senciência possa ter sido alcançada por possíveis reorganizações de estruturas e mecanismos já previamente existentes, sendo então a senciência um carater distribuído de maneira gradual entre os táxons animais.