Walter Benjamin e o Cinema de Quebrada: história dos esquecidos e arqueologia do anonimato
Nos documentos oficiais, monumentos, livros didáticos, feriados e celebrações cívicas estão presentes os protagonistas da História, seja de uma cidade, de um país, de um continente ou de toda uma época. Mas onde está o registro daqueles anônimos, invisíveis e aparentemente sem importância, como nos disse Bertolt Brecht, que construíram a muralha da China, as pirâmides do Egito, as conquistas dignas de serem lembradas e admiradas coletivamente? A partir da obra de Walter Benjamin e do Cinema de Quebrada – isto é, do cinema realizado na periferia do capitalismo –, esse projeto busca investigar e reconstituir parte da memória dos oprimidos a partir de suas próprias narrativas, imagens e lugares de origem. Segundo Benjamin, o historiador materialista deve fazer um trabalho arqueológico com o ocorrido, juntar os cacos e lembrar os mortos para reconhecê-los e redimi-los. No Brasil do século XXI, impulsionados por mudanças sociais e tecnológicas, cineastas moradores de regiões periféricas têm realizado filmes não apenas sobre, mas principalmente nas próprias comunidades onde vivem e atuam. A questão do futuro, do passado e do espaço que os conecta é parte significativa dessas obras. O objetivo de nossa pesquisa é justamente traçar uma relação entre as ideias de Benjamin sobre o papel das imagens dialéticas em movimento como instrumentos aptos a contar a história dos vencidos e as produções de um cinema independente situado às margens da indústria cultural.