INFLUÊNCIA DA PAISAGEM, DO CLIMA E DO PERÍODO DO DIA NO COMPORTAMENTO DE QUEIXADAS (Tayassu pecari)
Conhecer o comportamento dos animais in situ é de extrema importância para a elaboração de planos de manejo e de conservação. Porém, para muitas espécies, a observação direta do comportamento na natureza é um enorme desafio, sendo às vezes, impossível. O uso de armadilhas fotográficas vem sendo uma boa opção para pesquisas de campo não invasivas, sem a necessidade do manejo animal ou presença do pesquisador no local. O queixada (Tayassu pecari) é um ungulado frugívoro de ampla distribuição geográfica na região Neotropical, que forma grandes bandos e necessita de extensas áreas de vida. Tem grande importância ecológica como engenheiro de ecossistemas, mas é classificado como vulnerável globalmente por conta de ameaças antrópicas. Estudos comportamentais na natureza são raros para a espécie, devido à grande dificuldade de acompanhar e observar os bandos. Visando preencher essa lacuna, esse projeto analisou os padrões comportamentais (comportamento de conforto, comportamento social amigável, comportamento agonístico e de alarme, comportamento de forrageamento e de locomoção) de queixadas in situ e suas diferenças em relação à influência da paisagem, às estações do ano e ao período de atividade. Para tal, foram formulados dois capítulos: No capítulo I, foram utilizados vídeos obtidos por armadilhas fotográficas instaladas em seis locais distintos no Pantanal e Cerrado do Mato Grosso do Sul. Foram analisadas a duração e frequência dos comportamentos em função da porcentagem de classificação de uso do solo (agricultura, floresta e área não florestal natural) e densidade de estradas e corpos d'água. Os resultados corroboraram a importância de corpos hídricos para a espécie e o efeito negativo das estradas no comportamento desses animais. No capítulo II, foram analisados vídeos de armadilhas fotográficas localizadas no Refúgio Ecológico Caiman (Pantanal - MS). Foram analisadas a duração, o tempo gasto e a frequência dos comportamentos em relação à temperatura, à precipitação e à umidade. Observou-se a diminuição da duração média de locomoção dos indivíduos com aumento da temperatura e redução da frequência dos comportamentos agonísticos e de alarme em relação ao aumento da umidade e da temperatura. Nos meses chuvosos, os queixadas dedicam-se mais ao forrageamento e exibem menos comportamentos agonísticos e de alarme, enquanto nos meses secos, aumentam sua locomoção. Em meses frios, aumentam seus comportamentos sociais de coesão e agrupamento. Os resultados sugerem uma economia de energia para termorregulação em meses mais quentes e úmidos e aumento de comportamentos sociais em meses frios. Este trabalho colabora para a compreensão dos comportamentos dos queixadas na natureza e ressalta a importância da proximidade e disponibilidade de recursos e das condições climáticas para os padrões comportamentais da espécie.