“Ciência como Argumento” e “Ciência como Exploração”: Interações entre Licenciandos e Estudantes da Educação Básica ao longo de uma Atividade Investigativa com Foco na Argumentação
Esta pesquisa tem como objetivo investigar as relações entre interações argumentativas e a epistemologia da prática social na educação em ciências, tendo como foco interações discursivas entre aprendizes dos anos finais do ensino fundamental e educadores ao longo de uma atividade investigativa envolvendo experimentação e argumentação, que ocorreu no contexto da formação inicial de professores. A investigação apoiou-se em referenciais teóricos-metodológicos relacionados à Etnografia em Educação, Etnografia Interacional, Microetnografia, Estudos do Discurso e Argumentação. Apesar de não se tratar de um estudo etnográfico, o uso de referenciais relacionados à etnografia foram fundamentais para desenvolvermos análises e compreendermos as interações discursivas entre estudantes e licenciandos(as) ao longo da atividade. Apresentamos uma revisão da literatura nacional e internacional que relacionam a Argumentação e a Epistemologia na Educação em Ciências, no contexto da educação básica e da formação de professores. A coleta de dados ocorreu através do registro em vídeo e coleta de artefatos dos estudantes relacionada à explicação científica produzida por cada um dos grupos. Para a construção dos resultados, realizamos a análise em duas etapas, ocorrendo primeiramente a análise macroscópica e, depois, a análise microscópica. No nível macroscópico construímos linhas do tempo, quadros e narrativas que nos permitiram compreender e caracterizar a história do grupo ao longo da atividade desenvolvida. Além disso, realizamos uma análise inicial relacionada à forma como a Ciência foi trabalhada ao longo da atividade, considerando a proposição de Kuhn (1993) das noções de Ciência como Argumento e Ciência como Exploração. Por meio dessas análises macroscópicas alguns resultados foram apresentados, com relação à forma de organização da atividade e as formas de mobilização de práticas da ciência escolar. Em seguida, construímos representações relacionadas ao momento de transição entre argumentação e exploração em um dos grupos analisados e, por meio dessas representações, identificamos eventos com maior potencial para nossa investigação e selecionamos um para ser analisado microscópicamente. No nível microscópico, realizamos transcrições palavra a palavra das interações em unidades de mensagem e caracterizamos a Argumentação desenvolvida ao longo das interações entre licenciandos(as) e estudantes, buscando compreender como as interações argumentativas entre estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e licenciandos(as) ao longo de uma atividade investigativa deram forma ao que os estudantes aprenderam e na forma como aprenderam as práticas da ciência escolar, mais especificamente nosso objetivo foi compreender como a interação argumentativa desenvolvida entre estudantes da educação básica e licenciandos(as) deram forma ao que os estudantes aprenderam e de que forma esse conhecimento foi sendo construído ao longo da atividade. Os resultados evidenciam que mesmo havendo um planejamento conjunto com foco nas interações discursivas e uso da linguagem no Ensino de Ciências, observamos uma variação nos modos de organizar a atividade e de interagir com os estudantes. Dessa forma, os professores (com a participação dos estudantes da educação básica) constroem e desenvolvem as atividades na ação momento a momento, utilizando os materiais de modos diferentes e apoiando-se nas ações e reações dos estudantes no contexto imediato da interação. Essa diversidade no desenvolvimento da atividade também é percebida ao longo das interações do evento analisado, produzindo diferentes consequências relacionadas a como a organização refletiu nas interações e como essas interações deram forma à aprendizagem ao longo da atividade. O estudo tem potencial para contribuir com discussões relacionadas à Argumentação e a Epistemologia no Ensino de Ciências, principalmente relacionadas às formas de participação e à aprendizagem dos estudantes em atividades experimentais e investigativas.