Tortura, punição e morte: os lugares de memória e consciência da escravidão na Cidade de São Paulo (1554-1954)
Os equipamentos públicos forca e pelourinho ocuparam São Paulo desde a década de 1560,
e figuraram nos cenários públicos de grande circulação da cidade, destacadamente a
Região do Bairro da Liberdade, ainda que não sejam atualmente temas de grande destaque
de memória, para quem não frequenta locais específicos da região do Centro de São Paulo,
como as capelas coloniais. Propõe-se a destacar a trajetória desses dois instrumentos a
partir de documentação especial, as Atas da Câmara Municipal de São Paulo e seu Registro
Geral, além de documentação avulsa e manuscrita, conectada aos eventos específicos
desses locais, como enforcamentos e torturas públicas, e a criar instrumentos de pesquisa
simplificada para novas buscas, como tabelas de menções e transcrição das mesmas. Por
meio de estudo dessa documentação e com uso de análise qualitativa das menções dos
instrumentos, seus administradores e mais raramente, suas vítimas, procedeu-se a
construção de uma narrativa cronológica sobre esses equipamentos, os seus usos e em
alguns casos, os seus símbolos, expressos através da narração dos homens bons,
administradores de suas aplicações na cidade. Esse levantamento recuperou as
motivações para sucessivas construções, remoções, utilizações e significados do patíbulo e
do tronco, e algumas circunstâncias sociais em que eles obtiveram destaque na narrativa da
cidade. Observou que mesmo com pouco destaque na memória hegemônica local,
sobretudo na instalação final de ambos equipamentos na praça da Liberdade, sendo para a
forca, o seu período de maior atividade, eles são mencionados com abundante frequência
na documentação oficial, e eram objeto de constante interesse no cotidiano popular da São
Paulo Colonial e Imperial. Concluiu que não era a ausência de menções na documentação
oficial um dos motivos para o não destaque dessa história de dor no centro da cidade, e que
as mudanças espaciais, toponímicas e de usos das regiões em que estavam instalados
salientam processos de ressignificação não popular da história local.