Levante seus chifres: Torture Squad e sua profissionalização no underground do metal extreno brasileiro
Esse trabalho pretende discutir as táticas utilizadas pela banda Torture Squad no
sentido de sua profissionalização no underground do metal extremo brasileiro. Para isto,
parte-se da idéia de que a banda composta de jovens trabalhadores, elaborou sua arte
num contexto de precarização, promovido pelas políticas neoliberais implementadas no
Brasil a partir da década de 90 do século XX. Nascido na classe operária inglesa com os
acordes da banda Black Sabbath no final dos anos 60, o heavy metal foi se
transformando durante as décadas de 80 e 90 a partir das disputas internas que se
recusavam em ser cooptados pela indústria cultural. Gêneros como thrash, black e death
metal foram construídos coletivamente a partir de uma rede de fãs e músicos que
trocaram cartas, fitas k-7 e fanzines sob o lema do “Do It Yourself”. Essa proposta
solidária do underground vai sendo tencionada pelas pautas da racionalidade neoliberal,
que transforma os sujeitos em empresários de si, onde o discurso do empreendedorismo
e individualismo parece tomar conta de toda vida social. O campo da produção cultural
não está imune aos ataques da lógica mercantil, mesmo em estilos musicais que
originariamente se colocam num lugar de crítica a cultura institucionalizada, como por
exemplo o heavy metal, é preciso capturar a complexidade da ação dos seus sujeitos,
para além da articulação da identidade musical, situando-os na condição de artistas
precários para aqueles e aquelas que atuam no underground brasileiro. Estar “entre” é
dialogar nessa região de fronteira, permitindo-nos escapar as dicotomias e
simplificações entre underground x mainstream, mercado x arte, alcançando dessa
forma outros lugares de atuação. Entre a lógica do “faça você mesmo” e “empresa de
si”, o metal precário da Torture Squad é articulado como um modo de vida, onde o
sonho de seus integrantes é poder viver exclusivamente da arte musical produzida por
sua banda.