Google como agente diplomático dos EUA durante o governo Obama. O caso de Cuba.
A tese trata do processso de inserção do Google em Cuba em um cenário dominado pela economia de dados. A partir da compreensão do papel de transnacionais de comunicação e tecnologia em contextos como a Guerra ao Terror, no pós-atentado de 11 de setembro de 2001 e como as ações do Departamento de Estado dos EUA durante a chamada Primavera Árabe na gestão do democrata Barack Obama (ASSANGE, 2014), debruçamo-nos sobre estudos recentes que discutem como essas empresas participaram à reestruturação do capitalismo no pós-crise financeira de 2008 (KWET, 2018) e como têm reproduzido mecanismos imperialistas (YONG JIN, 2015; ZUBOFF, 2019) e colonialistas (COULDRY e MEJÍAS, 2019). Desta maneira, buscamos analisar como se dão as atuações geopolíticas dessas empresas e qual cenário econômico e sócio-político elas têm (re)desenhado, neste início de século. Para tanto, escolhemos como objeto de estudo a chegada do Google em Cuba. País que enfrenta problemas de infraestrutura para conectar-se à internet e que, desde o ano de 2014, passa por um processo de restabelecimento formal das relações diplomáticas com os Estados Unidos – relações estas comprometidas desde o início da década de 1960, quando, cientes da impossibilidade de derrubar a Revolução popular de Fidel Castro, os Estados Unidos optaram pelo embargo comercial, financeiro e econômico; e por estratégias de contra-propaganda e boicotes de diferentes tipos (ELLISTON, 1999). Para compreender o fenômeno “Google em Cuba” buscamos mapear o cenário cubano de desenvolvimento de tecnologias de 1959 (ALFONSO, 1993; PRESS, 2011; URRA, 2011), passando pela absorção das chamadas “novas tecnologias” pela sociedade no início do século XXI, até o surgimento de distintas táticas desenvolvidas pela própria população na tentativa de superar a precariedade da infraestrutura de rede no território e as limitações materiais geradas pelo embargo (BRITO, 2019). Para uma compreensão panorâmica da reaproximação entre Cuba e Estados Unidos também discutimos o histórico de intervenções do Império na Ilha, todas com vistas à derrubada do governo revolucionário e buscamos compreender como as relações de poder que envolvem esses novos atores podem estar repetindo padrões históricos. Deste modo, buscamos tecer uma reflexão sobre como devemos nos atentar à atuação das gigantes de tecnologia no cenário político do Sul global em um contexto mundial em que nossa sociedade de controle (DELEUZE 1990) está seduzida pelo autoritarismo e inerte diante de uma economia financeirizada. Um momento em que as commodities somos nós. Nós, porque fornecemos a commodities do século XXI. Nós que somos fontes infinitas de dados. E como qualquer terra que provê commodities estamos, sujeitos a rendermo-nos, talvez de maneira inédita, a modernos mecanismos cooloniais.