A FOME E O NEOLIBERALISMO NO HAITI: impacto da liberalização do comércio de arroz sobre a soberania alimentar do país a partir dos anos 1980.
Dentre os países ocidentais, o Haiti configura-se como o mais pobre e, dentre os países americanos, o Haiti é o que tem maiores índices de fome, destoando da realidade da região, uma vez que esta foi a que alcançou maiores progressos em relação à diminuição da desnutrição. A partir disso e pressupondo a fome como um problema multidimensional, esse trabalho buscou analisar uma das dimensões de tal flagelo. Partindo da não aceitação do determinismo geográfico, a fim de não classificar a fome como fatalidade devido aos intensos acontecimentos climáticos e geológicos que incidem sobre o país, e que frequentemente são utilizados como justificativa para o cenário que se instaura, a pesquisa pretendeu analisar as relações econômicas as quais interferem na conquista da soberania alimentar. Trata-se de uma busca pela soberania que acompanha o objetivo de assegurar a própria independência do país que, desde sua revolução, tem dificuldades em trilhar seu caminho de maneira autônoma. Com isso, a imposição de medidas neoliberais, principalmente a partir da década de 1980, impactou a produção alimentar do Haiti, sobretudo na cultura arrozeira, sendo que a partir da redução das tarifas alfandegárias o arroz estadunidense subsidiado passou a entrar no mercado haitiano, competindo com o produto local e desestimulando a produção local. Além disso, a problematização da questão alimentar haitiana também perpassa a própria ajuda alimentar que, sob respaldo do conceito de “segurança alimentar”, ignora a importância que a produção dos alimentos tem contrapondo-se à ideia de soberania. A hipótese principal levantada – que o neoliberalismo impactou de forma negativa a soberania alimentar do país - é confirmada a partir de fontes primárias e secundárias, além de revisão bibliográfica, nas quais se observa o fato de um país com aproximadamente 11 milhões de habitantes configurar como segundo maior mercado de arroz estadunidense. O trabalho propõe alguns pontos tanto para a denúncia e combate à fome de modo geral, como especificamente em relação ao Haiti.