CARTOGRAFIAS DO CÁRCERE: POR UMA MICROFÍSICA DO ENCARCERAMENTO
Utilizando-se da Cartografia como método, a pesquisa de mestrado em andamento pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do ABC se dispõe a inserir o território prisional em um plano cartográfico investigativo. A partir da vivência do próprio pesquisador dentro de um presídio, está em uso como disparador e fonte de dados primários o arquivo reunido neste período, sendo este composto essencialmente de escritos do próprio pesquisador e de outros internos, de objetos recolhidos durante o período do cárcere, e das memórias afetivas do corpo-prisioneiro. Os dispositivos elencados para mapeamento até o instante incluem: o território e suas linhas (Masmorra, Albergue, Mercado, Mercadoria e Necrotério); o tempo (período de adaptação, período de manutenção estratégica e período de continuidade indefinida); os processos diários; os processos esporádicos; os processos atemporais; o devir-ferro; o devir-grama; o devir-nada. Em composição a estes dispositivos identificados em um primeiro momento no arquivo pessoal, procura-se uma ressonância com outros estudos acadêmicos já consagrados e, especialmente, com outras obras oriundas de vivências do cárcere. Destacam-se neste sentido até o momento as obras “Submundo”, de Abdias Nascimento; “Memórias de um Sobrevivente” e “Às Cegas”, de Luiz Alberto Mendes; “Enjaulado”, de Pedro Paulo Negrini; “Cárcere - Relatos de apenados sobre o encarceramento”, de Alex Giostri e “O Prisioneiro da Grade de Ferro”, de Paulo Sacramento. Em relação aos conceitos centrais que devem ser articulados e, de certa maneira, reconfigurados para o contexto da pesquisa em prisões, destacam-se até o instante aqueles encontrados nas obras de Erving Goffman (Carreira Moral, Estigma, Ajustamentos Primários e Secundários), Gresham Sykes (Dores do Aprisionamento), Gilles Deleuze e Félix Guattari (Devir, Axiomática Capitalista, Diagrama, Singularidade e Máquina de Guerra) e Michel Foucault (Biopolítica, Biopoder e Verdade). O trabalho procura se manifestar em uma categoria análoga à Convict Criminology, movimento acadêmico-social que vem se consolidando em outros países onde os saberes produzidos por detentos e egressos são colocados em destaque de maneira complementar às formas tradicionais de produção de conhecimento acadêmico.