OS TEMPOS DA MEMÓRIA METALÚRGICA NO ABC PAULISTA:
A MULTIPLICIDADE NARRATIVA SOBRE O REGIME DE EXCEÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO (1964-1985)
A presente dissertação foi realizada compondo uma agenda de pesquisa mais ampla relacionada à violação dos Direitos Humanos pelo Estado brasileiro durante a Ditadura Militar (1964-1985). Tal pesquisa foi desenvolvida a partir de entrevistas semiestruturadas ocorridas nos anos de 2017 a 2022. Em 2019, as entrevistas foram realizadas em parceria com a Associação dos Metalúrgicos Anistiados e Anistiandos do ABC (AMA-A) e com a Fundação Sociedade Comunicação, Cultura e Trabalho (TVT). Com a brusca interrupção em decorrência da pandemia de COVID-19, algumas entrevistas foram realizadas entre 2021 e 2022 em formato remoto. Nesta dissertação, analisamos narrativas de homens e mulheres que tiveram uma trajetória de trabalho e/ou de vida relacionada ao setor metalúrgico na região do ABC Paulista, participando (direta e indiretamente) das greves, nos finais dos anos 1970 e início dos 1980. O objetivo é compreender, a partir de uma perspectiva da multiplicidade narrativa, como elaboram a experiência histórica de perseguição política vivenciada nos espaços da família, do trabalho e da militância sindical. Trata-se de uma experiência histórica marcada por uma cultura política repressiva e militarizada, institucionalizada pelo Estado brasileiro a partir do Golpe de 1964. Analisaremos, a partir dessas memórias, como se posicionaram nesse mundo autoritário, identificando os tempos que compõem a narrativa e os vestígios de marcadores sociais de classe e de gênero.