AS TRADIÇÕES ÁRABES-MUÇULMANAS E AS NOVAS IDENTIDADES CULTURAIS: BRASILEIRAS E AFRICANAS NO CONTEXTO RELIGIOSO ISLÂMICO
Esta tese tem por finalidade, por meio de uma perspectiva histórico-sociológica, analisar e investigar a identidade social da mulher muçulmana. Essa investigação tem como objetivo verificar a pluralidade de identidades culturais das mulheres muçulmanas: de procedência africana, brasileira sem ascendência étnica e religiosa (denominada revertida) e da muçulmana de nascimento, a partir de uma combinação singular de autopercepção e reconhecimento, sentimento de pertencimento, tradição, valores e crenças religiosas e intersecção entre gênero, classe e raça. Assim dizendo: almeja-se entender como as identificações específicas de ser muçulmana, das mulheres nascidas na respectiva religião, levam-nas considerar as revertidas e de outras etnias como desiguais, inferiores, reduzindo a pessoa a uma maneira de ser falsa, distorcida, que a restringe. Concentra-se, pois, nas narrativas e trajetórias pessoais das religiosas, oferecendo-se como reais promoções de visibilidade e compreensão das opiniões, atitudes, posições das nascidas muçulmanas acerca das mulheres brasileiras revertidas que professam sua fé na religião islâmica. No sentido de complementar a análise no que respeita a identidade social da mulher muçulmana, este trabalho faz uma busca do estigma da religiosa a partir da textualidade das narrativas jornalísticas brasileiras na mídia impressa e virtual, mais especificamente no que tange aos assuntos relacionados a posição social da mulher no contexto religioso islâmico. Dessa forma, questionam-se, por meio de três perguntas: (a) como é a sociodinâmica das relações estabelecidas entre a mulher muçulmana brasileira revertida-nascida e a afro muçulmana no islamismo? (b) a intersecção do gênero, da raça e da classe social implica nas experiências e ao lugar que as mulheres brasileiras revertidas e de procedência africana ocupam na comunidade religiosa islâmica? (c) quais as contribuições dos discursos das produções jornalísticas brasileiras sobre o islã e a compreensão da mulher muçulmana e da religião? Para se cumprir esta proposta analítica, foi indispensável o registro de experiências das religiosas muçulmanas que, através do uso da História Oral (HO) pode-se suscitar questões para compreender as relações existentes entre as muçulmanas revertidas-nascidas na religião. E a seleção e verificação dos discursos jornalísticos pelo olhar comparativo das mulheres muçulmanas para reconhecer as informações e interpretações das narrativas com a real condição da mulher inserida no contexto religioso islâmico. Para este estudo, usam-se conceitos históricos, sociológicos e antropológicos, como: relações de poder; alteridade e reconhecimento pois, objetiva-se nesta tese, considerar as atitudes e estratégias dos membros de um grupo coeso de mulheres nascidas na religião islâmica, perceber nos aspectos textuais das narrativas jornalísticas condições de estabelecer estigmas a fim de entender a sujeição gradativa das mulheres brasileiras revertidas e de procedência africana. Por isso, esta pesquisa, preocupa-se em compreender a susceptibilidade das brasileiras muçulmanas de acordo com normas e padrões grupais.