A universidade flexível: a proposta “de excelência” da Universidade Federal do ABC
Com uma história caracterizada pelo elitismo, pelo credencialismo e pelo autoritarismo, o ensino superior brasileiro passou, nas últimas décadas, por intensas mudanças com a ampliação do acesso e a introdução de políticas de inclusão para segmentos anteriormente excluídos sem, no entanto, reverter a transformação pela qual passavam as instituições públicas sob os imperativos da produtividade, eficiência e flexibilização. Juntamente à ideia de “investimento” em educação como chave para o desenvolvimento econômico, esse movimento ganhou forma com a difusão da teoria do capital humano, formulada por economistas da Escola de Chicago, e impulso por meio da atuação de organismos internacionais, como Unesco e Banco Mundial. O conceito de “engajamento econômico da juventude” é um recente desdobramento da teoria do capital humano, preconizando como condição ideal para os jovens a conciliação entre estudos e inserção profissional. É nesse quadro que analisamos a proposta de “inovação” da Universidade Federal do ABC (UFABC), que combina políticas de inclusão e um modelo pedagógico baseado na “excelência”, flexibilidade e competitividade, buscando aproximar a educação do mercado de trabalho reconfigurado pela reestruturação produtiva. Esse modelo cria entraves para a vivência dos alunos, levando a um número elevado de reprovações e prazos alongados para a conclusão dos cursos, que afetam principalmente os estudantes trabalhadores, maioria na universidade. A pesquisa se valeu da análise de documentos do Banco Mundial e da UFABC, de dados estatísticos sobre o ensino superior e do Perfil Discente da Graduação da UFABC, em diálogo com a literatura crítica. A partir do estudo de caso da UFABC, a dissertação visa contribuir com a compreensão da difusão do receituário neoliberal no âmbito das políticas de ensino superior.