Classificação étnico-racial em discussões no Twitter: denúncias de supostas fraudes em ações afirmativas das universidades públicas brasileiras em 2020
A presente dissertação tem como objetivo investigar as discussões em torno das classificações étnico-raciais brasileiras por meio do Twitter. Para tanto, foram analisadas as publicações do perfil “reservanonymous” e da hashtag #FraudadoresDeCotas, entre maio e julho de 2020. Tal período é marcado pela criação de diversas páginas nessa mídia digital com o intuito de denunciar supostas fraudes no sistema de cotas étnico-racias das universidades públicas brasileiras. À vista disso, diferentes internautas compartilharam suas interpretações sobre raça/cor, política de ações afirmativas e como avaliavam os casos exibidos no perfil e na hashtag. A partir dos diálogos e argumentos mobilizados nesses tweets, busquei, neste trabalho, situar as controvérsias acerca da temática; compreender como o Twitter têm sido utilizado nos debates sobre pertencimento racial no país, bem como, identificar como a categoria “parda” está sendo representada nesses contextos. Nesse sentido, para o desenvolvimento e a concretização da pesquisa, empreguei a união dos seguintes métodos: análise de discurso; “perambulações” pela hashtag e a revisão bibliográfica da literatura das ciências sociais nacionais, especificamente, do campo das Relações Étnico-raciais, junto às contribuições da área da Sociologia Digital e dos Estudos Culturais. Os resultados dessa investigação enfatizam que há dúvidas quanto ao sistema classificatório do país e as suas formas de designação, tais como: (a) quem é negra/o no Brasil, sobretudo quem se “encaixa” na categorização de “parda/o”; (b) se a heteroatribuição racial no país é baseada na “marca” (critérios fenotípicos) ou na “origem” (ascendência); e (c) como são articuladas as intersecções entre classificação socioeconômica e raça/cor. Assim sendo, esses apontamentos procuravam explorar quem seria, de fato, o público-alvo da Lei 12.711/2012.