FORMULANDO A INVISIBILIZAÇÃO: A COLABORAÇÃO DA FARMÁCIA NA MANUTENÇÃO DO RACISMO ESTRUTURAL
As dinâmicas de manutenção do racismo ocorrem por conta das relações que existem em diversos espaços sociais cotidianos. Isso acontece porque esses espaços foram construídos e consolidados baseados em um processo de hierarquização racial e consequentemente uma anulação da população negra em locais de poder e destaques positivos. Um exemplo disso é a baixa representatividade e representação de profissionais negros e negras nos espaços de poder da Farmácia. Historicamente, através de suas publicações, diretorias e presidência, os Conselhos Regionais e Federal de Farmácia colaboraram com a construção da imagem do profissional farmacêutico como uma pessoa branca. Considerando que existem farmacêuticos e farmacêuticas negros e negras, mas esses tiveram sua existência anulada em determinados espaços, funções e representações de destaque na área profissional, pode-se refletir sobre a invisibilidade desses profissionais não apenas entre seus pares, mas na sociedade como um todo. Essa situação é um dos muitos exemplos de como o racismo estrutural opera nos espaços institucionais e cotidianos de nossa sociedade. Na condição de Farmacêutico que trabalhou por mais de vinte anos na Saúde Pública e Cientista Social que vem atuando na área da Educação há pouco tempo, busco compreender como aconteceu histórica e culturalmente a ausência de negros e negras no centro da representação profissional farmacêutica. Para isso, faço um levantamento dos processos de marginalização dessa parcela da população tanto nessa área específica quanto na Saúde Coletiva e espaços educacionais. Nessa investigação, fazendo uso de diálogos entre Clóvis Moura, Angela Davis, Silvio Almeida, Neusa Santos Souza, Lélia Gonzalez e Frantz Fanon, trago as definições de racismo estrutural e as formas pelas quais o racismo ocorre na sociedade. Além disso, busco entender como a Indústria Farmacêutica, ao investir fortemente nas relações com estudantes e profissionais, acaba produzindo não apenas medicamentos, mas também profissionais de acordo com seus próprios interesses econômicos. Ao cruzar essas duas trajetórias (marginalização da população negra e formação de profissionais farmacêuticos), proponho que, sendo o profissional farmacêutico uma espécie de produto da Indústria Farmacêutica e com a população negra tendo sido historicamente direcionada a lugares de marginalização social, a Indústria colabora com a manutenção do racismo estrutural em nosso país ao compreender que o profissional farmacêutico negro seria um “produto” que não deve ir para um lugar de destaque na “vitrine”, sendo a invisibilização desses profissionais o resultado desse processo.