Plataformização da vida e a axiomatização dos afetos: um estudo sobre o uso do WhatsApp por caminhoneiros brasileiros
Neste estudo propomos a investigação das transformações político-culturais surgidas com o uso massificado das plataformas sociais e como esse uso estabeleceu modos de controle por agentes políticos e econômicos diversos através da instrumentalização algorítmica e dataficada dos afetos e desejos dos usuários. Para tanto, sugerimos como foco de análise o uso do WhatsApp por caminhoneiros brasileiros. A escolha por esse recorte de estudo se justifica na importância que a plataforma tem nas formas de organização política, nos meios de organização do trabalho e no entretenimento e comunicação entre os trabalhadores da categoria. Essa profunda inserção do uso do aplicativo pelos caminhoneiros, junto a importância do transporte rodoviário para a economia nacional e a identificação desses trabalhadores com o grupo político de extrema direita conhecido popularmente como bolsonarismo, faz com que essa rede sociotécnica que relaciona caminhoneiros e WhatsApp seja um objeto de estudo privilegiado para observar relações de influência e agentes de poder emergentes com o fenômeno da plataformização. Defendemos que esses processos se dão por meio de um sistema cibernético de individuação que caracterizaremos como dispositivos de subjetivação neoliberal. Esses dispositivos produzem sujeitos neoliberais manipuláveis para fins mercadológicos, políticos e sociais através da modulação algorítmica e dataficada. Objetivamos demonstrar que esse sistema de individuação é uma tecnologia de axiomatização capitalístico, como apresentado por Deleuze, que estrutura as máquinas do desejo a serviço da máquina capitalista em sua fase neoliberal. Para essa pesquisa, utilizaremos um método que mistura o acompanhamento de grupos de WhatsApp de caminhoneiros, o estudo de documentos oficiais oferecidos pelo WhatsApp como sua política de tratamento e uso de dados ou patentes de algoritmos da empresa, junto a entrevistas semiestruturadas com caminhoneiros, produzindo uma descrição densa que transversalize as operações técnicas, os discursos sobre tecnologia e as práticas reais de comunicação nesses espaços. Com isso, pretendemos demonstrar as estruturas técnico-sociais envolvidas nas relações de poder na contemporaneidades das plataformas sociais.