A relação memória-silenciamento no processo de integração transnacional de refugiados sírios em São Paulo
Apesar de ser um processo histórico, o fluxo migratório tornou-se uma questão global crescente. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, em 2020 guerras, violência e perseguições levaram ao deslocamento forçado de 82.4 milhões de indivíduos. Neste contexto, o objetivo desta pesquisa é verificar o papel que a memória desempenha na integração dos refugiados que residem, seja permanentemente ou por um período, no Brasil. A hipótese é a de que a gestão da memória é uma questão fundamental na adaptação do ordinário influenciando profundamente momentos a vida cotidiana, dado o caráter traumático de muitas dessas lembranças ligadas a um deslocamento forçado e, na maioria dos casos, violento. Para esse trabalho foram colhidas histórias de vida de seis pessoas de nacionalidade síria e traçadas relações entre esses relatos e aportes teóricos de autores que trabalham temas relacionados à migração e memória. A escolha por esse sujeito de pesquisa se dá pela relevância do número de refugiados sírios que têm migrado para o Brasil e, também, pela possibilidade de explorar questões como a diversidade religiosa, linguística e cultural que essas pessoas têm em relação à população brasileira. Parte-se do entendimento de que, se o passado é indestrutível e no mundo do inconsciente nada se perde; lidar com as reminiscências que trazem ao mesmo tempo alegria e dor, é relevante para o processo de integração dessas pessoas que merecem - não só pelo direito legal ao refúgio, mas também pelo extenso sofrimento já vivido, um tratamento de acolhida o mais humanitário quanto possível.