Segregação e extermínio: o eugenismo revisitado na capital de São Paulo (2004-2017)
O movimento eugenia emerge no final do século XIX, na Inglaterra, tendo como o principal precursor Francis Galton (1822-1911). No Brasil, a sua receptividade se deu a partir dos anos de 1917, cujo principal expoente foi Renato Kehl (1889-1974). Os ideólogos da eugenia apostavam na sua efetivação para eliminar os grupos classificados como anormais, por meio de políticas de controle de natalidade, prisões, eliminação física dos indesejáveis e outros métodos. Ao estudar as manifestações da eugenia no século XXI, principalmente depois do declínio do nazismo e no contexto da ditadura militar (1964-1985), verificou-se que no Brasil a efetivação do eugenismo deu-se por meio da eugenia negativa e preventiva, logo, a eliminação dos grupos considerados indesejáveis se reflete à natureza da classe dominante brasileira. Mesmo não assumindo o seu alinhamento “ideológico” com as ideias eugênicas, a burguesia brasileira pôde utilizar as estruturas e aparatos do estado para assegurar seus privilégios de classes. Assim, a presente tese tem como finalidade demonstrar como a eugenia tem se manifestado na atualidade, após 1945, em particular, no período de 2004-2017, especialmente no Brasil. Ao estudar as iniciativas de estado concernentes às políticas de combate às drogas, o encarceramento em massa e a letalidade policial, verificou-se que a eugenia preventiva e negativa se expressam nessas esferas. Buscou-se problematizar o fato de que embora tenha havido mudanças no que tange às políticas sociais no Brasil durante a gestão do governo federal do Partido dos Trabalhadores, ao mesmo tempo, se presenciou um aperfeiçoamento no seio da política de segurança pública, que recrudesceu o combate às drogas, propiciou o encarceramento em massa e aumentou a letalidade de jovens negros/as decorrentes de intervenção policial. São nestes aspectos que sustentamos na presente tese, a permanência do eugenismo contemporâneo.