AMBIVALÊNCIAS DA QUESTÃO RACIAL (NEGRA) NO PARTIDO DOS TRABALHADORES – PT (1980-2016)
Esta pesquisa tem por objetivo investigar a incorporação e tratamento da questão racial negra no Partido dos Trabalhadores (PT) de sua fundação, em 1980, até o impedimento da presidenta Dilma Rousseff em 2016, argumentando que o aspecto central desta trajetória foi a ambivalência, isto é, a coexistência de perspectivas aparente ou efetivamente contraditórias que foram incorporadas ao contexto partidário, tensa e conflituosamente. Estamos falando de noções como raça e classe; universal e particular; identidade e diferença; universalismo e identitarismo etc. Nos anos 1980 a ambivalência da questão racial no PT foi marcada por sua afirmação, como particularidade, num partido que se formou com uma proposta universalista baseada na luta de classes. A politização institucional da identidade (negra) e da diferença empreendida pela militância negra nos partidos políticos seria uma novidade no cenário político brasileiro pós ditadura militar. No entanto, tratava-se de uma adesão institucional crítica na medida em que a autonomia do Movimento Negro também estava em questão. Nos anos 1990, por conta da emergência da ideologia e prática neoliberais no país – que constrangeu tanto os agentes políticos favoráveis ao neoliberalismo, como aqueles que lhes eram contrários – o partido, e a política brasileira de modo geral, se movimentaram “à direita”, fazendo com que os paradigmas que orientavam a ação política em busca de uma sociedade socialista fossem gradativamente abandonados em detrimento de outros, mais adaptados à sociedade capitalista, ou que ao menos não possuíam como meta superá-la. Nos anos que compreenderam os governos de Lula e Dilma, a ambivalência da questão racial no partido se desloca do debate interno para o debate sobre as políticas públicas voltadas para a igualdade racial que seriam implementadas no Estado brasileiro, mais especificamente as ações afirmativas.