CONSTRUÇÃO CRÍTICA DE CIDADANIA DE IDENTIDADES TRANSGRESSORAS: EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO POPULAR DA UNEAFRO BRASIL NAS POLÍTICAS LGBTQIA+ DA CIDADE DE SÃO PAULO
A insegurança humana da população LGBTQIA+, em especial negra e pobre, agravou-se nos últimos anos no Brasil (país que mais mata travestis no mundo), sobretudo a partir da ascensão política de líderes e figuras públicas autointitulados como de direita, fundamentalistas, conservadores e cristãos, que atacam as pautas progressistas e os direitos das populações nessas condições de insegurança, sob a alegação de que as escolas e as instituições públicas teriam sido “infectadas” por uma degradação social e moral. Em contrapartida, os movimentos populares e as plataformas de organização social seguem como espaços de resistência, acolhimento e formação. Com o advento, em março de 2020, da pandemia do Novo Coronavírus (Sars-CoV-2), as disputas nas arenas públicas se polarizaram, e a vulnerabilidade das populações estruturalmente oprimidas se agravou. Nesse contexto, a presente pesquisa coloca a questão: em que medida e de que forma a educação popular afeta a vida de estudantes e/ou participantes de experiências de aprendizagem em movimentos sociais e nos programas de política pública LGBTQIA+? A resposta foi buscada por meio de uma abordagem interdisciplinar (balizada em conceitos de Pedagogia Crítica, Direitos Humanos, Relações Internacionais, Decolonialidade e Estudos de Gênero), investigando o impacto social (global e individual) das formas de enfrentamento das precariedades de pessoas LGBTQIA+. Para esse fim, elegeu-se como objeto as experiências de educação popular da UNEafro nas atividades do Núcleo de Educação Popular Luz Laura Vermont, dos Centros de Cidadania LGBTQIA+, da Casa de Acolhida Florescer para Mulheres Transexuais e do programa TransCidadania (todos na cidade de São Paulo), avaliando como essas experiências viabilizam acolhimento e formação cidadã, crítica e transgressora. Avaliou-se, também, se a segurança humana dessa população é efetiva, por meio da análise institucional da responsabilidade do Estado brasileiro em proteger, zelar e viabilizar a cidadania plena para sua população. A metodologia empregada, de caráter etnográfico, partiu do diálogo entre a Antropologia Urbana e os Estudos de Gênero, priorizando dados primários obtidos pelos relatos de trajetórias de vida, o que resultou numa produção qualitativa e analítico-crítica, embasada no trabalho de campo e na observação participante, por meio de análises de entrevistas discursivas (abertas e não-estruturadas). Foi possível concluir que os movimentos sociais e as plataformas de organização social operados pela educação popular possibilitam uma rede de solidariedade que viabiliza formação crítica, inclusão social, estreitamento de relações e um fluxo de doações entre seus atendidos, demonstrando que esses mecanismos de produção de sobrevivência e resistência criam efetivas comunidades de troca e de fortalecimento.