As relações e percepções de meninas com passagem pelo sistema socioeducativo com as dinâmicas do mundo do crime em São Paulo
O trabalho se propõe a analisar as relações e percepções de meninas com passagem pelo sistema socioeducativo com diversas dinâmicas criminais no Estado de São Paulo. Apesar dos avanços estabelecidos e direitos assegurados desde a criação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), em 1990, não se deve perder de vista que as medidas socioeducativas, previstas na doutrina de proteção integral, possuem uma dimensão punitiva que colabora para o encarceramento de jovens. Neste contexto, a pesquisa tem como objetivo analisar a inserção de meninas, com passagem pela Fundação CASA de São Paulo, em atividades como roubo, tráfico de drogas, bem como suas eventuais relações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), a partir de códigos e sociabilidades estabelecidas em âmbito local em torno de negócios ilícitos. Sob a perspectiva do gênero, a pesquisa busca compreender os papeis sociais ocupados pelas jovens nas atividades criminais e como seus corpos são perpassados por distintas formas de punição e opressão. Por meio de entrevistas e análises de trajetórias de vida, busca-se compreender aspectos centrais que tais atividades proporcionam, como autonomia, poder e pertencimento, ao mesmo tempo em que impõe precarização, exploração e desigualdade de gênero. Na esfera da institucionalização, busca compreender como se formam novas subjetividades. Entre as principais conclusões, a pesquisa verificou que as jovens experimentam posições de poder em atividades criminais, porém, sempre no limite que os papeis de gênero que a sociedade estabelece. A participação no tráfico de drogas inclui atividades consideradas secundárias e, mesmo quando atuam em situações de liderança, estão subordinadas à comandos masculinos. A influência do PCC foi percebida tanto nas formas de sociabilidade dos bairros periféricos em que vivem quanto nas unidades socioeducativas que cumpriam medidas de internação. Por meio das trajetórias de vida analisadas, notou-se a presença do PCC como instância reguladora das atividades criminais nos pontos de comércio de drogas e como influência simbólica nas formas de gestão das unidades socioeducativas.