MATERNIDADES AMBIVALENTES E DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO:
Trajetórias de Mulheres-Mães Trabalhadoras e suas Resistências no Grande ABC
O presente trabalho contribui para a compreensão das trajetórias e experiências vivenciadas por mulheres-mães da classe trabalhadora, examinando suas formas de articular o trabalho do cuidado e o trabalho assalariado. Em sociedades capitalistas modernas, a divisão sexual do trabalho atribui às mulheres o exercício não remunerado, ou precarizado, do trabalho reprodutivo. A inserção feminina no mercado de trabalho assalariado ocorre sob limitações de espaço, qualidade dos vínculos e dupla jornada, o que restringe o poder econômico e político das mulheres. Partindo de uma perspectiva interseccional, o estudo enfoca experiências de mães trabalhadoras consideradas aos seus diferentes posicionamentos de raça e classe. A maternidade surge como categoria ambivalente, primeiro enquanto aprofundamento da opressão de gênero e, em segundo, como fonte de potencialidades de resistências de mulheres. Nas suas experiências e trajetórias, observaremos as estratégias utilizadas por elas enquanto ocupantes de dois espaços: doméstico – do trabalho reprodutivo e do cuidado, e externo, do trabalho assalariado. A estratégia da flexibilização dos vínculos de trabalho é investigada em sua dubiedade: como elemento precarizante, bem como forma de resistência, possibilitando a construção de autonomia financeira e pessoal destas mulheres. Ainda, investigaremos práticas de resistências e microrresistências pautadas em afeto, em uma ética de amor, em que mulheres-mães, para além da instituição da maternidade, desenvolvem na experiência da maternagem, potencialidades nas relações construídas junto às suas comunidades, a outras mães (sororidade materna) e à sua família, no contexto das subjetividades do trabalho do cuidado, e a sua importância na construção de perspectivas de si e do social. Para o desenvolvimento da pesquisa, sob o método qualitativo, pretende-se realizar entrevista com 12 (doze) mulheres-mães trabalhadoras residentes na Região do Grande ABC (SP), complementadas por questionário aplicado a 50 mães trabalhadoras no primeiro trimestre de 2024, bem como por estatísticas de gênero disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O referencial teórico abrange a literatura sobre gênero, divisão sexual do trabalho, maternidade, precarização do trabalho e resistência das classes subalternas.