APOSENTADORIA DAS MULHERES E REFORMA DA PREVIDÊNCIA: UMA ANÁLISE DO DEBATE LEGISLATIVO DA EC Nº 103/2019
A reforma previdenciária no Brasil já é uma velha conhecida e vem sendo debatida há quase 30 anos: questões demográficas trouxeram mudanças no perfil do brasileiro idoso, mas, por outro lado, os direitos sociais vêm sofrendo ataques neoliberais desde a promulgação da Constituição Federal de 1988 e retornam à pauta legislativa federal governo após governo, constituindo um ciclo de reformas ainda inacabado. A última proposta feita pelo governo de Jair Bolsonaro (2019-2022) por meio da PEC nº 06/2019 chama atenção pelo aprofundamento dos ideais neoliberais e pelo viés economicista, especialmente no que diz respeito ao direito à velhice feminina, apontando diversos motivos para que os requisitos de elegibilidade de aposentadoria sejam equiparados entre homens e mulheres. Esta pesquisa tem por objetivo investigar a aposentadoria das mulheres brasileiras, partindo do desenvolvimento do sistema previdenciário com enfoque na questão de gênero até a promulgação da Constituição Federal de 1988, para depois verificar como o direito à velhice das mulheres vem sendo afetado a cada reforma desde o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) até o de Jair Bolsonaro (2019-2022). Buscou-se levantar e confrontar os argumentos favoráveis à reforma a partir do referencial teórico interseccional sobre a interpretação do princípio da igualdade e da divisão sexual do trabalho para depois identificar como se organizaram os atores político-institucionais no processo decisório da PEC nº 06/2019, já que esta foi a única a alterar o critério de idade mínima para aposentadoria feminina, um feito inédito no ciclo de reformas constitucionais da previdência no pós-1988. A análise concentra esforços no papel das parlamentares mulheres na aprovação desta última reforma, de forma a examinar como elas participaram do processo decisório, especialmente quais temas foram mais debatidos por elas e seus posicionamentos, além de verificar quais vitórias podem ser atribuídas à bancada feminina.